A decisão dos caciques do PSDB de manter a aliança com o governo Temer provocou um racha nos diretórios do PSDB de todo o país. A ala mais progressista da legenda, sobretudo os mais jovens ou os “cabeças pretas”, alegam que a decisão compromete o projeto político do partido para as eleições de 2018.
No Espírito Santo, o deputado Sérgio Majeski é certamente o tucano mais inconformado com a decisão. Ele vai mais longe. Para o deputado, o partido deveria romper também com o governo de Paulo Hartung, correligionário de Temer.
Esse racha no PSDB, no caso de Majeski, parece ter sido a gota d’água que faltava para o deputado passar a considerar a saída do partido como uma realidade. O próprio Majeski já não se preocupa em esconder que está aberto para conversar com outros partidos.
A relação de Majeski com o PSDB lembra um casamento que chegou ao fim, com os cônjuges ainda debaixo do mesmo teto, mas dormindo em quartos separados. O amor já acabou faz tempo. Falta apenas cumprir as burocracias para formalizar o fim. No caso do deputado, essa etapa seria consolidada na janela de transferência partidária, prevista para março do ano que vem.
Mas caso Majeski deixe mesmo o PSDB, quem sai perdendo? Primeiramente, o próprio partido, que deixa escapar a principal novidade revelada na política capixaba. Explico. A onda gigante da corrupção que devastou políticos e partidos deixou um cenário desolador. O eleitor olha para o horizonte e forma uma imagem apocalíptica da política. Alguém está animado para ir às urnas em 2018?
Não é preciso encomendar uma pesquisa de opinião para saber que a maioria dos eleitores, fosse a votação facultativa, não passaria perto das urnas em outubro do ano que vem.
Majeski é uma dessas novidades que mostram que é a salvação da política pode estar na própria política. Exagero? Pode ser, só o tempo irá mostrar. Mas quando se avalia os mandatos dos 30 deputados da Assembleia é fato que o de Majeski se destaca dos demais. O deputado é coerente, corajoso e, até que se prove o contrário, ficha limpa. Aprovando ou não o deputado, ninguém pode negar que essas qualidades se tornaram raras na política.
E esse o político que o PSDB está empurrando para a porta da rua. Não fosse sua oposição declarada ao governo Paulo Hartung (PMDB), que ainda mantém o controle de vários partidos no Estado, Majeski seria bem mais disputado pelas legendas.
Além de estar na iminência de perder o deputado, se isso de fato acontecer, o PSDB ganha um adversário de peso na disputa de 2018. Se o caminho de Majeski for mesmo o Senado, o candidato do PSDB, Ricardo Ferraço, terá um páreo duro pela frente, com a agravante de ter feito um lance no escuro ao aceitar a relatoria da Reforma Trabalhista no Senado. O tucano ainda não sabe como essa jogada será interpretada pelas urnas.
Outro que perde com a saída de Majeski do PSDB, por incrível que possa parecer, é Paulo Hartung. Bem ou mal, dentro do PSDB, o governador, de alguma maneira, mantinha um controle velado sobre os passos do deputado. Por exemplo, quando o presidente estadual da legenda, Jarbas de Assis, “lança” Majeski na disputa à Câmara dos Deputados, além de ganhar um bom puxador de votos, manda o deputado para Brasília e ainda o afasta de um palanque de oposição a Hartung numa disputa majoritária.
Para quem fez uma complexa manobra para evitar encará-lo na prestação de contas da Assembleia, imagine a tensão de cruzá-lo num palanque eleitoral, correndo o risco de ser tratado pela alcunha icômoda de “Baianinho”.