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Austeridade de fachada

Há 15 dias, o prefeito Luciano Rezende (PPS) convocou uma sessão extraordinária na Câmara para aprovar um pacote de medidas de austeridade. Um dos projetos (já aprovado) do Executivo foi a fusão de secretarias que, segundo o prefeito, irá proporcionar uma economia de cerca de R$ 3 milhões aos cofres da Prefeitura de Vitória. 
 
Esse tipo de medida, à primeira vista, revela a preocupação do prefeito com as contas públicas e serve como exemplo a toda a administração, que precisa seguir economizando neste segundo mandato. Luciano, com a medida, mostra que não pensa duas vezes na hora de cortar na própria carne. 
 
A narrativa seria convincente se dias depois o prefeito não passasse a fazer uma série de nomeações para acomodar na administração aliados políticos que ficaram pelo caminho na eleição passada ou sem espaço com as fusões anunciadas.
 
No texto da reforma administrativa (Projeto de Lei 6/2017), Luciano extingue as secretarias de Gestão Estratégica e Comunicação e cria a Secretaria de Gestão, Planejamento e Comunicação. A estratégia, na verdade, não está na economia, mas no compromisso de criar uma supersecretaria para o vereador Fabrício Gandini. Luciano tem planos para o seu principal correligionário e quer fortalecê-lo para disputas futuras.
 
Para reforçar o verniz da austeridade, o prefeito também anunciou a fusão das pastas de Meio Ambiente e Serviços, e as de Obras e Habitação. E comemorou, no balanço, que estava reduzindo a máquina pública de 21 para 18 secretarias. A “nova” Secretaria de Meio Ambiente foi entregue a Luiz Emanuel (PPS), um dos seus aliados que fracassou nas urnas e precisava ser acomodado na administração.
 
Na fusão da Comunicação, a ex-titular da pasta absorvida por Gandini, Margô Devos, também não ficou desempregada. O prefeito “arrumou” para ela o cargo de assessora especial. Aliás, os cargos de assessor especial e assessor  técnico viraram uma espécie de cargo genérico na gestão do prefeito: serve para acomodar quase todos. 
 
Reportagem do jornal A Gazeta (26/01/17) aponta que Luciano acomodou na prefeitura mais dois aliados políticos que foram derrotados nas urnas: Rogerinho Pinheiro (PHS) e Marquinhos Delmaestro (PP). O ex-taxista virou assessor técnico, mas admitiu, já no cargo, que não sabia ainda quais seriam suas funções. Delmaestro será assessor de projetos especiais. 
 
Obviamente os novos nomeados e a prefeitura negaram que se trata de contrapartida política. Esta semana, a coluna Socioeconômica, de Século Diário, ironicamente, cutucou Gandini, que agora é “dono” de uma supersecretaria. Questionou se ele deixaria o ex-presidente da Câmara Namy Chequer (PCdoB), que tanto fez pela administração do prefeito, na planície. A provocação foi válida. Namy, que também teve insucesso nas urnas, desconversa, mas sua vaga já está assegurada na administração de Luciano. 
 
É ingenuidade do prefeito tentar convencer a opinião pública que sua gestão não faz do cargos públicos balcão de negócios. Luciano tenta se defender com números. Vocifera que a maioria dos cargos não tem ligação partidária ou que apenas 5% dos servidores são comissionados. 
 
O prefeito não comentou, porém, que os dados do portal da transparência da prefeitura também apontam que dos 193 assessores técnicos, cargo entregue a Rogerinho Pinheiro, por exemplo, 161 são comissionados (dados de dezembro/2016). Só a folha desse grupo custou aos cofres públicos quase R$ 12 milhões em 2016, o que também não nenhuma bagatela. 
 
Luciano Rezende precisa ter mais humildade para tolerar as críticas. Embora a moda agora sugira tudo o que acontece no Espírito Santo como modelo de sucesso, a gestão do prefeito de Vitória não chegou a esse nível de perfeição para servir de exemplo. 

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