O craque Neymar, que trocou o Santos pelo Barcelona há pouco mais de um ano, está às voltas com o fisco do Brasil e da Espanha por sonegação de impostos. Pobre garoto.
Tudo indica que a mancada foi do pai dele, seu empresário, que parece ter feito um arreglo contábil com os dois clubes de futebol. Os craques Romário, Ronaldo e Rivaldo devem ter boas histórias sobre tais transações interclubes. Messi, o craque argentino, também está enrolado não apenas com o fisco, mas com a Justiça: há um empresário que reclama indenização por ter bancado a hospedagem do garoto nos seus primeiros anos na Espanha, onde ele chegou com 11 anos. O preço da fama, dirão os pragmáticos.
No Brasil, a conta cobrada de Neymar é de apenas R$ 460 mil, valor que representa apenas um gomo da bola que o jogador embolsa todo mês. Mas ele recorre para não pagar ou para pagar menos, perdendo muito mais do que isso com o chamado desgaste de imagem. Na linguagem do mercado: paga quem pode e esperneia quem tem o juiz ao seu lado.
É de duvidar que Neymar escape à marcação cerrada da Receita Federal, que precisa manter sua fama de implacável.
O assunto não sai da ordem do dia porque o futebol é um dos mais recentes territórios conquistados pelo Money Machine. Não é por acaso que os braços do Fisco e da Justiça estão tratando de impor alguma moralidade ao mundo do esporte.
No futebol, no tênis, no automobilístico, no basquete, no vôlei, no surfe e até no judô rolam montanhas de grana, mas com uma distribuição de valores absolutamente desigual.
Por exemplo: o cheque ganho pelo campeão de um torneio de tênis é maior do que a soma fos prêmios dados aos judocas de um grand prix internacional.
Olhando bem, logo se vê que os valores em jogo correspondem menos à qualidade dos atletas e muito mais aos interesses dos canais de mídia e dos seus respectivos patrocinadores. É aí que está instalado o imensurável poder corruptor do dinheiro.
Até há pouco, se considerava que o esporte, por constituir atividade particular, estaria livre de investigações judiciais. Acabou. A CBF, a Conmebol e a Fifa estão na marca do pênalti. São instituições manipuladas por malandros que exploram a boa fé popular.
O povo gosta de bola, mas não de encher o bolso de oportunistas, incompetentes e ladrões. Por isso, a Operação Lava Jato conquistou a maioria da opinião pública. Mesmo cometendo deslizes operacionais, como o vazamento seletivo de informações, o trabalho conjunto do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça derrubou o muro que protegia políticos corruptos, funcionários públicos venais e empresários “”compradores” blindados por grandes escritórios de advocacia.
PLANTÃO EDITORIAL
Não basta acabar com as mamatas. É preciso matar as vacas sagradas de todos os campos – artísticos, esportivos, religiosos, econômicos e políticos.