Os livros de história nos ensinaram que herói não tem pulso de aço nem voa por aí vestido com roupas apropriadas para o Halloween. Os verdadeiros heróis navegaram mares tenebrosos, desbravaram florestas impenetráveis e abriram caminho para novos países e novas guerras, que as monarquias europeias estavam cansadas de lutar lá entre elas. Na festa do Ano Novo as cabeças coroadas se reuniam para decidir – Quem luta com quem esse ano?
Nesse mês de outubro comemora-se os 500 anos da colonização espanhola no solo americano. O censo define como hispano ou latino os nascidos em Cuba, México, Porto Rico, América do Sul e Central, ou em outras culturas espanholas, não importa a raça, cor ou credo. Os hispanos formam o maior grupo alienígena do país – 55 milhões. Só no México tem mais hispanos. Seguindo o ritmo de crescimento atual, em 2060 serão 128 milhões, ou 31% da população.
Mas quem chegou primeiro, ingleses ou espanhóis? A raça espanhola é a segunda mais antiga do país – antes deles só os índios. Tudo começou com Ponce de Leon, que aportou na região em 1513. E por estarem na semana da Páscoa, ele chamou o local de Pascua Florida, o nome da Páscoa em espanhol. Em menos de 30 anos, eles já tinham explorado as Montanhas Apalachian, o Rio Mississipi, o Grande Canyon e as Grandes Planícies. Seus navios chegaram ao Pacífico e até o Oregon, no noroeste. Os espanhóis criaram a primeira colônia permanente europeia do país – Santo Agostinho, na Flórida, em 1565. Portanto, a mais antiga cidade americana.
Duas tradições americanas aconteceram com os espanhóis muito antes dos ingleses – 80 anos antes de John Smith ser salvo por Pocahontas, um certo Juan Ortiz passou por uma experiência parecida – condenado a ser executado, foi salvo por uma menina índia. E 65 anos antes dos colonizadores ingleses inventarem o Thanksgiving, os hispanos já festejavam com os índios da Flórida em Santo Agostinho.
Ingleses e franceses suplantaram os espanhóis na América do Norte. Para se vingarem, os espanhóis encorajavam os escravos a fugir das fazendas do norte e se refugiarem na Flórida, onde eram cristianizados e viviam em liberdade. Esses fugitivos criaram uma comunidade ao norte de Santo Agostinho chamada Gracia Real de Santa Teresa de Mose, o primeiro assentamento totalmente negro do futuro país.
O resto é história. Outra guerra e lá se foram os mexicanos, e o vil metal conquistou a Flórida sem derramamento de sangue. A contrapartida dos mexicanos aconteceu entre 1942 e 1965, quando 41 milhões de trabalhadores rurais mexicanos vieram trabalhar nas lavouras americanas. Eram chamados braceros, por serem trabalhadores braçais, e para serem admitidos tinham que mostrar as mãos calosas – prova da habilidade com a enxada. Já os cubanos precisaram de Fidel Castro.