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Capítulo Vitória

A luta das comunidades do interior do Espírito Santo pelo direito à educação, consagrado pela Constituição Federal e diversas leis complementares, se desenrola como uma novela. Ora com capítulos dramáticos, ora com outros mais felizes, que consagram vitórias para os mocinhos da trama. Nesse último caso, podemos citar o caso de Santa Maria de Jetibá, cidade da região serrana do Estado. Depois de muita luta e protestos, a comunidade, formada por descendentes de pomeranos que se dedicam à agricultura, conseguiu que as matrículas fossem reabertas para o ensino médio noturno em quatro escolas.
 
A partir do próximo dia dois de março, por determinação da Justiça, vagas voltarão a ser ofertadas nas unidades “Graça Aranha”, São Luís, Frederico Boldt, Alto Rio Possmoser e Francisco Guilherme. O autor da denúncia à Promotoria do Ministério Publico Estadual em Santa Maria de Jetibá, que resultou em ação civil pública e na decisão da Justiça, foi o professor Swami Cordeiro Bérgamo. 
 
Mas o docente não é um protagonista e herói solitário. Ao seu redor, coadjuvantes de um núcleo que uniu sindicatos, empresas, cooperativas, conselhos, associações e igrejas. Todos articularam um movimento que fortaleceu o vínculo da comunidade em prol de educação pública e que respeite as particularidades de quem vive no campo. Sim, todos foram atores atuantes de uma vitória coletiva! 
 
O vilão da narrativa de fechamento de escolas no interior, nada fácil de ser enfrentado, é nada menos que o próprio Estado, nas figuras do governador Paulo Hartung e do secretário de Educação, Haroldo Rocha. Com o projeto vitrine-eleitoral Escola Viva atropelam a educação do campo, decidindo, arbitrariamente, fechar o ensino médio noturno em comunidades rurais. Outros municípios afetados por essa política arbitrária e autoritária são Afonso Claudio, Muniz Freire, Mimoso do  Sul e Alegre. Os números falam por si: 42 escolas estaduais foram fechadas entre 2015 e 2018, período do terceiro mandato de Hartung, que está em seu último ano.
 
Como naquele capítulo que faz o expectador não desgrudar os olhos da tela e alternar estados emotivos, assim foi a audiência pública “O fechamento de escolas e a ameaça ao futuro da juventude capixaba”. Realizada no Plenário da Assembleia Legislativa, no último dia 21, tornou-se um espaço repleto de indignação de alunos, suas famílias, líderes políticos e professores, que lotaram o principal espaço da Casa. Foi uma catarse do povo do interior, que se vê desamparado por seus representantes. Dos 29 parlamentares só o deputado Sergio Majeski (PSDB), educador e proponente da audiência, estava lá. Tribunal de Justiça (TJES), Ministério Público Estadual (MPES), Secretaria de Estado da Educação (Sedu), apesar de convidados, não enviaram sequer representantes.
 
Não é possível saber se o final da narrativa se aproxima, mas outros capítulos arrancam lágrimas da audiência. Numa carta enviada a Século Diário, Hilde Helene Christiansen ??? mãe de filhas especiais que ficaram sem escola em córrego Francisco Corrêa, comunidade de Mata Fria, Afonso Cláudio ???, expressou seu sentimento ao jornalista Ubervalter Coimbra, que tem narrado, recentemente, a lutado interior por educação pública. Em trechos da carta, Hilde, que foi professora e é lavradora, escreve:
 
“Minhas esperanças de que nossos jovens e adolescentes possam reconstruir seus sonhos foram fortalecidas. É difícil expressar em palavras o sentimento de alegria que invadiu meu coração. Amo muito as pessoas de minha comunidade e desejo que sejam felizes. Você não imagina a tristeza que sinto ao ver, principalmente os jovens, muitos deles menores de 18 anos, completamente dependentes do álcool e outras drogas; com o olhar vazio, sem esperança. Muitos deles até desistindo de viver… Pela minha perspectiva, penso que a principal causa é a falta de sonhos, de projetos de vida. Se não conseguimos mais sonhar é porque não há mais esperança e, sem esperança, a vida perde o sentido… Creio firmemente de que a educação pode construir sonhos e prover bases sólidas para que estes sonhos possam se realizar. Apesar de ter me falado que não deveria te agradecer, o sentimento de gratidão pelo que fez por nossa comunidade, ao divulgar os fatos, teve uma grande importância”, escreveu Hilde.
 
Que o desenrolar dos novos capítulos dessa narrativa contemporânea capixaba seja, de fato, como nos folhetins da ficção: com mais finais felizes.

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