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Ciclo da impunidade

Desde quando ocorreu o crime do diretor do Hospital Roberto Arnizaut Silvares, o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Valdenir José Belinelo, há 18 meses, mais precisamente no dia 21 de março de 2012, a cidade de São Mateus, onde ele desenvolvia sua atividade profissional, suspeita da condução do inquérito policial sobre o assassinato. É que, apesar dos fortes indícios de crime de mando, a Polícia Civil ainda não chegou ao seu mandante, embora haja suspeitos, por óbvias razões.    
 
Professor da área de farmácia, Valdenir Belinelo foi chamado ao cargo após suspeitas de irregularidades com fornecedores do hospital. Tombou quando avançava em suas apurações dos episódios de corrupção à custa das verbas para a saúde. É o que está na boca do povo, muito pela morosidade das autoridades competentes, que ainda não conseguiram esclarecer à sociedade o que se passou com o diretor do hospital. 
 
Desde o início das investigações, o delegado Fabrício Lucindo, responsável pelo caso, alinhou-se em duas teses para o bárbaro assassinato, cometido a facadas, na zona rural de Linhares: passional ou de mando. Que, pelo tempo, ficou pelo caminho. E o delegado fechou-se em copas. Nada mais se falou sobre o caso, somente o silêncio ensurdecedor da impunidade, que só foi quebrado mais de um ano depois do crime, quando o deputado estadual Euclério Sampaio (PDT) cobrou do governo do Estado que respondesse ao seu requerimento de informação, pedindo a cópia integral do inquérito policial. Vale destacar que, mesmo assim, o prazo para o recebimento da resposta já venceu. E mais silêncio sobre o assassinato de Valdenir Belinelo.  

No embalo do pedido, o deputado pediu que o crime fosse federalizado. Talvez uma solução para o fim desse ciclo da impunidade, mas nem tão honrosa para a polícia capixaba. Seria desabonador para o chefe de Polícia, delegado Joel Lyrio Júnior, e para o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia. Mesmo que não venha a ser federalizado, os dois devem uma satisfação à sociedade de São Mateus, que foi abalada por esse crime, por perder uma figura da melhor qualidade profissional e moral. O medo se instalou entre os moradores, já que ele foi morto à luz do dia. Quem mais estaria a salvo?

 
O delegado que apura esse crime, Fabrício Lucindo Lima, é o mesmo que, com uma velocidade impressionante, encontrou os criminosos que haviam matado o motorista que transportou os matadores do crime do sindicalista Edson José dos Santos Barcellos, ocorrido em Conceição da Barra, em julho de 2010. No inquérito que apurou o assassinato do sindicalista, Diones dos Santos, conhecido como Porquinho, foi apontado como o piloto de fuga dos sequestradores de Edson. Oito dias após o crime, Porquinho foi assassinado em Linhares, mas o crime não foi investigado como queima de arquivo, e sim como guerra de gangues pelo controle do tráfico de drogas. 

O padrasto de Porquinho, Mateus Ribeiro dos Santos, conhecido como Mateusão, havia denunciado como mandante o prefeito de Conceição da Barra, Jorge Donati (PSDB) e, 23 dias após a denúncia, foi executado, também em Linhares. O executor dele, Vitor Silva Ferreira, o Vitinho, foi preso dias depois do crime e declarou que executou Mateusão por vingança, e assim o crime foi tipificado como tal, também pelo delegado Fabrício Lucindo.

O delegado talvez pudesse repetir a mesma agilidade na condução desse crime, já que, diferentemente do crime na Barra, onde teria conseguido afastar as suspeitas sobre um poderoso homem de negócios, o delegado está de frente do caso envolvendo a morte do professor, que pode ter sido assassinado por interesses girados em torno de antigos e constantes fornecedores de materiais do hospital. Caso não se confirme a tese que circula pela cidade, é hora de se esclarecer quem assassinou e por que foi morto o professor Valdenir José Belinelo.

 
A Ufes também se omitiu, assim como o governo. De omissão em omissão, foi-se quem pensou que a moralização da vida do Estado fosse um dever de um homem público.
 
Esse crime não pode ficar assim. 

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