Não tivemos a sorte – nem tempo – para inventar os salões de beleza, mas assim como os italianos não inventaram mas aperfeiçoaram a macarronada, o estilo e o charme dos salões de cabeleireiro foram muito melhorados cá entre nós. Com uma média de cinco a cada quarteirão, viraram pontos de convergência, salas de reunião onde amizades nascem ou morrem, as notícias se atualizam, as fofocas ganham credibilidade.
Salão tem em todo lugar, locais apropriados para se cortar, pintar ou pentear o cabelo e fazer as unhas. Os nossos, no entanto, conseguiram inovar – evoluíram a níveis de consultórios psicológicos, onde se faz desde terapia de grupo a um relaxante farniente. Também são mais democráticos, e a clientela se socializa indiferente às nuances de idade, cor, credo e situação financeira. Tudo isso já incluído no preço, bem módico se comparado aos daqui.
Em Miami as atendentes geralmente são hispanas, mas 40% das cabeleireiras americanas são vietnamitas. Na Califórnia elas chegam a 85%. As brasileiras estão começando a se destacar no ramo, principalmente nas artes da cera depilatória e da queratina, produtos atualmente com intensa demanda. Brasileiríssimos, andam adornando prateleiras de supermercados e salões de beleza, pois além de prestar os serviços habituais, os salões também vendem produtos especializados.
A maioria dos salões cuida apenas do cabelo; fazer unhas é para poucas. Em Nova York tem uma rede famosa que apenas penteia – não pinta, não corta, não faz unha, não depila. As cabeleireiras hispanas sempre tentam engrenar um pate-papo com a clientela, mas ninguém engata. Chegam, sentam e se isolam em seus iphones, aguardando a vez; são atendidas ou atendidos por ordem de chegada, mesmo com hora marcada, pagam e adeus. Ou seja, entram mudos e saem calados.
Aristóteles e Homero fizeram referência a cabeleireiros em seus escritos, sem referência a algum lugar específico onde eles trabalhavam. Imagino que devia haver cabeleireiros-camelôs nas esquinas, pelo menos para os homens. Naqueles idos, homem só podia cortar cabelo de homem, mulher de mulher. No antigo Egito, ricos e nobres cortavam o cabelo bem curto para permitir o uso das perucas usadas nas grandes ocasiões e nos eventos religiosos. E assim começaram os salões de beleza – para fazer perucas.
Na Roma e Grécia antigas, os escravos cuidavam dos cabelos de seus mestres. As barbearias entraram na moda quando um decreto papal, em 1092, exigiu que todos os religiosos da Igreja Católica tivessem o rosto barbeado. O resto da população masculina aderiu, e adeus barbas. Mas barbearias eram frequentadas apenas pelos homens – as mulheres tinham os cabelos tratados em casa, por empregadas, vizinhas, ou pessoas da família.
Tudo mudou na França, quando Champagne, o primeiro cabeleireiro a ficar famoso, abriu um salão em Paris onde penteava os cabelos das mulheres mais ricas e da alta nobreza. No Brasil, os salões de beleza ganharam status e se popularizaram com a chegada dos rolinhos e do laquê – tal como ditava a moda Rock and Roll imposta por Hollywood.
E se alguém apostou numa onda passageira errou feio. Em todo lugar os salões de beleza se renovam, resistindo galhardamente às crises financeiras, alterações climáticas,recessões, inflações, desvalorizações, mudanças monetárias, golpes políticos, modismos, tendências e demais aberrações. No Brasil até aumentam nas crises, quando os altos índices de desemprego incentivam a sempre renovada economia informal.