domingo, fevereiro 9, 2025
24.9 C
Vitória
domingo, fevereiro 9, 2025
domingo, fevereiro 9, 2025

Leia Também:

Comer bem, como convém

Cozinhar com fogo é uma arte que só os humanos dominam, embora haja suspeitas de que os anjos… Ainda hoje antropólogos e sociólogos discutem se era necessária – o mundo estaria melhor se comêssemos apenas o que pudesse ser ingerido ao natural? Nunca saberemos, mas as opiniões se dividem.  Também não há consenso sobre a época em que se começou a estragar os alimentos no fogo – os dados variam entre 250 mil e mais de dois milhões de anos.
 
Todos, porém, concordam que cozinhar os alimentos foi um dos grandes propulsores da evolução humana. Naturalmente o alimento também sofreu um grande processo evolutivo, e chegamos hoje à pizza do Chef italiano Renato Viola, de lagosta e caviar, que é o prato mais caro do mundo (12.000,00 dólares).  Mesmo assim, acho que sofremos uma regressão alimentar inversa aos avanços da humanidade.
 
Pois com toda a sofisticação da cozinha moderna, dos Maitres, Chefes e Restauranters; dos restaurantes de altíssimo nível e preços ainda mais altos; das revistas especializadas, dos muitos programas de televisão onde cozinham ao vivo, e mesmo dos self-services e coma-a-quilo, a verdade é que cada vez comemos pior.  A velha arte de cozinhar o trivial básico, como se dizia no tempo dos conventos, e incentivadora da congregação familiar, já era.
 
Com ela vai junto a distinta e tradicional arte de sentar à mesa.  O fogão é ainda obrigatório em toda cozinha, mas não cozinha como antigamente, obsoleto como a  máquina de costura e a enceradeira. A família reunida em torno da mesa virou coisa do passado, e como no caso do ovo e da galinha, não sabemos qual veio primeiro – o esfriamento do fogão ou o esvaziamento da mesa de jantar. Responda depressa: a) porque ninguém mais tem tempo para comer sentado; b)  porque já não há mesas que comportem grandes famílias.
 
A crise vai mais fundo, e temos outros fatores envolvidos no esquema, como a pressa, a falta de tempo, a mulher que trabalha, o vício da televisão, a escravidão do computador, os fast-foods, a comida congelada, a preguiça, o encolhimento dos salários, o lento e gradativo desaparecimento da classe média, o sumiço das outrora chamadas auxiliares de cozinha, peças essenciais no velho costume de se comer em casa.
 
Vinham em várias cores, tamanhos, humores e aptidões, e tinham vários nomes – a cozinheira, a lerda, a faz-tudo, a não-faz-nada, a maria, a tonta, a relaxada, a santa, a vem-um-dia-some-dois, a salvação a lavoura, a coisinha, a quase-da-família, a incompetente, a quebra-tudo, a que tomou-chá-de-sumiço… e por aí vamos, que a lista é longa. Era uma  personagem quase folclórica, variando numa escala de santa a mal-necessário, com uma estranha tendência a desaparecer quando mais se precisava e na fase carnavalesca.
 
Comemos melhor hoje em dia? Meus filhos dizem que comida boa é a da mamãe; mas lembro com saudades da comida da minha mãe, que reclamava por não conseguir igualar a galinha ao molho pardo com abóbora recoberta com muita salsa e cebolinha que a mãe dela fazia. Humm lembrar dessas iguarias me dá fome. Fecho a coluna sem encontrar um final feliz, e vou comer sanduíche de borracha no McDonalds, com batatas fritas em gordura supersaturada. Haja coração!

Mais Lidas