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Como comer banana sem tirar a casca

A população tem conhecimento do decreto do governador Paulo Hartung (PMDB) que determinou o corte de 20% nos gastos com custeio e pessoal em todas as secretarias. Boa parte, porém, ainda não notou os impactos dessas medidas nos serviços públicos, exceção à área de Segurança – uma das mais delicadas da administração pública, ao lado da Saúde e Educação. 
 
O decreto do governador foi seguido à risca pelo secretário de Segurança Pública André Garcia. Sem ter de onde enxugar gastos (de um orçamento que geralmente tende a faltar em vez de sobrar), o secretário percebeu que a única saída seria cortar o consumo de combustíveis das viaturas. 
 
Há cerca de duas semanas, o secretário tornou pública sua estratégia de cumprir a meta do governo cortando o combustível das viaturas. Do anúncio da medida para cá, a popularidade do secretário despencou, e junto com ela a imagem do governo, que foi bastante criticado.
 
As críticas partiram da sociedade civil organizado, ganharam espaço na imprensa e foram parar na Assembleia. A gritaria foi unânime: “Como um estado que é vice-líder nacional em homicídios, há mais de 12 anos, tira o policiamento das ruas para cortar gastos?”
 
No início, o secretário bem que tentou sustentar sua decisão. Disse que os cortes no combustível não iriam trazer prejuízos à segurança da população. 
 
Comandantes de Batalhão ouvidos pela imprensa demonstravam ter decorado o discurso institucional. Em resumo, eles admitiam que foram obrigados a se adequar ao decreto do governador, mas asseguravam que a diminuição do patrulhamento motorizado não comprometeria o policiamento, que seria feito a pé, com bicicletas e motos. 
 
Com o passar dos dias a pressão para cima do secretário e do governo foi aumentando. O ápice aconteceu na sessão dessa terça-feira (24) na Assembleia, quando alguns deputados passaram a cobrar veementemente explicações do secretário de Segurança. 
 
Amarato Neto (PPS), entre outros deputados, exigiu de Euclério Sampaio (PDT), presidente da Comissão de Segurança da Assembleia, a convocação do secretário André Garcia. 
 
Euclério ainda tentou fazer o papel de líder (informal) do governo, procurando argumentos para justificar os cortes do secretário, mas a emenda ficou pior que o soneto. Na quarta (25), Euclério recuou e assegurou aos colegas que o secretário compareceria ao legislativo estadual para esclarecer as dúvidas dos parlamentares. 
 
Garcia, por sua vez, se antecipou, e já reformou seu discurso. Ao jornal A Gazeta (26/02/15), o secretário declarou que foi mal interpretado, que a ordem para cortar combustível não partiu dele, e que “um ou “outro gestor” entendeu mal.
 
À procura de um bode expiatório, Garcia passou a construir a defesa que levará à Assembleia Legislativa. O secretário já adiantou que tudo foi um “grande equívoco”, e atribuiu a patuscada a uma “falha de comunicação interna”. 
 
Ora, quem André Garcia quer enganar. Será que ele acha que na testa do cidadão está escrito a palavra “idiota”. Se um secretário de Estado, de uma área da importância da Segurança Pública, precisa de duas semanas para descobrir que não partiu dele a ordem de cortar combustível, ele precisa entregar o cargo por incompetência. Pior, ainda admite que houve uma “falha interna de comunicação”. Quer dizer que a comunicação ficou “falhando” por duas semanas sem que ele percebesse?
 
Garcia repassou sim o corte linear de 20% para os batalhões. O gasto com combustível, que é o mais expressivo dos batalhões, foi o primeiro a entrar na faca. Os comandantes não tinham de onde tirar. Desde que a medida foi adotada, comandantes de batalhões deram entrevistas à imprensa tratando o corte como uma ordem que deveria ser cumprida e ponto final. 
 
O próprio Garcia admitiu que os batalhões estavam fazendo cortes. Tanto é que ele se preocupou em afirmar, todas as vezes que falou sobre o assunto, que a medida não afetaria o policiamento. 
 
Antes da repercussão da medida, André Garcia queria provar que era possível comer banana sem tirar a casca, ou seja, manter o mesmo padrão de policiamento tirando viaturas das ruas. Impossível. Duas semanas depois, sofrendo pressão de todos os lados, percebeu que sua tese era insustentável. Agora procura um culpado para entregar à Assembleia. Já encontrou.
 
No caso, o culpado é “um ou outro gestor que entendeu errado” sua ordem. 
 
Desculpas esfarrapadas à parte, a nova ordem agora é encher o tanque das viaturas, mandar o pessoal para as ruas e pôr fim à polêmica.

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