A pesquisa do Ibope que mede o Índice de Confiança Social (ICS) dos brasileiros nas instituições públicas e privadas, publicada nessa quinta-feira (1), é sintomática. O instituto ouviu as pessoas no final da primeira quinzena de julho, ou seja, em meio às manifestações que tomaram as ruas das principais cidades do país faz dois meses.
Das 18 instituições avaliadas este ano, todas foram pioraram em relação ao levantamento do ano passado. Nem mesmo os bombeiros, que sempre foram vistos como heróis incontestes da sociedade, escaparam da queda: caíram 7%.
O desgaste maior sobrou para a presidente Dilma Rousseff que, de alguma maneira na percepção da população, por exercer a função de mandatária-mor da nação, levou a pior: queda de 33% em relação a 2012 – despencou dos confortáveis 63 para 42, no índice que vai de zero a 100.
A presidente Dilma é a bola da vez, não resta dúvida, mas outras instituições também estão com o “filme queimado” com a população. E isso não é uma exclusividade das instituições públicas. As privadas também são malvistas.
Os bancos, por exemplo, caíram 14% no conceito dos entrevistados: gozavam de 56 pontos em 2012 e agora têm 48. Não é por acaso que as instituições bancários viraram alvo de ataques dos manifestantes durante os protestos. Isso ocorreu, inclusive, em Vitória.
Voltando para o setor público, a saúde registrou queda de 24% (tinha 42 e agora tem 32). A insatisfação da população com essa instituição é fácil de ser identificada, basta observar a relação custo-benefício do sistema: muito dinheiro investido e um serviço de péssima qualidade. Não dá para confiar.
Até as igrejas, mesmo na iminência da vinda do Papa Francisco ao Brasil (a pesquisa foi feita antes), estão com a imagem arranhada: caíram 7% (tinham 71 pontos hoje têm 66).
Porém, das 18 instituições avaliadas, os partidos políticos chamam mais atenção. Em 2009, quando o Ibope iniciou o levantamento, que é anual, os partidos políticos já figuravam no rodapé da tabela, e de lá nunca saíram. Tinham índice de 31 pontos em 2009. Resultado que só não era pior ao do Congresso Nacional (35) que, não por acaso, tem a imagem imbricada com os partidos. Afinal, tudo começa nos partidos.
O melhor resultado dos partidos, se é que 33 pontos podem ser considerados aceitáveis, foi em 2010, último ano do governo Lula e quando o país vivia uma euforia de crescimento. Naquele ano, o presidente do PT alcançava o melhor índice da série: 69. O bom resultado acabou rebocando toda a classe política. Mas, mesmo assim, os partidos políticos permaneceram na lanterna.
Nos anos seguintes (2011, 2012 e 2013), a confiança nos partidos políticos só foi piorando, respectivamente, eles obtiveram índices de 28, 29 e 25 – a pior marca da série desde que o levantamento começou a ser feito. Não por coincidência, o Congresso Nacional, durante os cinco anos da pesquisa, seguiu amargando a vice-lanterna.
Esses dados, em véspera de ano eleitoral e em plena efervescência dos movimentos populares ocupando as ruas, deveriam ser analisados com cautela redobrada pelos partidos.
A população percebeu, e não de hoje, que os partidos políticos não são confiáveis. Talvez porque boa parte dos problemas que fazem parte da pauta das ruas tenha sua raiz nas relações promíscuas gestadas nessa instituição, que vai precisar se transformar muito para reconquistar a confiança da população.