Agora, sim. Passada a fase de costuras e registros das candidaturas e de formação de aliança e palanques, as campanhas políticas começam a chegar às ruas. Tanto no plano nacional, quanto no plano regional, o quadro geral ainda é de grande indefinição e de possibilidades de oscilações nas intenções de votos. Lá, e cá, é ainda muito grande o percentual de brancos + nulos + indecisos. A rigor, tudo pode acontecer.
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No plano nacional, é hoje possível a definição no primeiro turno, mas é provável a ida para um segundo turno. Dilma Rousseff (PT) mantém visível resiliência no patamar de 35%/38%, o que vem a ser o chamado “um terço duro do PT”. Aécio Neves (PSDB) cresceu bem até o patamar de 20%/22% e estacionou. Eduardo Campos (PSB) permaneceu estacionado no patamar de 8%/10%. E o Pastor Everaldo Pereira (PSC) movimentou-se para 3%/4% com viés de alta, representando o crescimento gradual no Brasil de uma tendência política conservadora, de centro-direita, que ganha representatividade e pede passagem.
Tudo somado, até agora, a questão é saber se e como as candidaturas postas vão penetrar no exército de indefinidos e descrentes na política para diminuir a tendência de alienação eleitoral. Em que medida o fogo cruzado de uma campanha que se prenuncia vigorosa , talvez agressiva e emocional , vai construir e/ou desconstruir imagens e candidaturas?
O fato é que neste ano teremos campanhas curtas, em função da Copa do Mundo, e que tudo indica que as formas tradicionais de fazer política, lá e cá, não deverão ter eficácia. Num eleitorado indefinido, com alto grau de rejeição da política e dos políticos, com sentimentos e opiniões ao mesmo tempo difusos e contraditórios, serão os detalhes que poderão definir as eleições. Lá e cá.
Por isto, estas deverão ser as eleições da disputa pelo maior capital simbólico e pela maior competência para mostrar a capacidade de entregar os serviços públicos na ponta. Nesta disputa no plano simbólico, a questão será saber se Lula vai adicionar capital simbólico a Dilma , se Marina vai adicionar capital simbólico a Eduardo Campos, e se Fernando Henrique vai adicionar capital simbólico a Aécio. Não será uma eleição apenas nos moldes da política tradicional.
O quadro geral é este. Possível primeiro turno, provável segundo turno, vale repetir. No retrato de hoje, Dilma Rousseff ou pode ganhar ainda no primeiro turno, ou já estaria num segundo turno. A dúvida, hoje, é saber quem poderá ir para um eventual segundo turno com ela. Na minha opinião, não está ainda clara a tendência de Aécio Neves ir para o segundo turno. Eduardo Campos pode ainda voltar a crescer na medida em que se torne mais conhecido e que consiga absorver capital simbólico de Marina e mostrar capacidade e experiência para entregar. Também, o espaço de crescimento potencial da candidatura do Pastor Everaldo pode não só contribuir para levar as eleições para um segundo turno, como pode ainda penetrar em parte do eleitorado potencial de Aécio Neves.
Indefinição. Esta é a melhor definição, ainda, do quadro geral nacional. Imaginar que haveria, já, uma tendência definida nas eleições presidenciais é derrapar para o campo do “wishful thinking” (otimismo exagerado).
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No plano estadual, o quadro também é de indefinição. Nos últimos quinze dias, aproximadamente, o palanque inicial de Renato Casagrande desidratou-se repentinamente, culminando com a retirada do apoio do senador Ricardo Ferraço (PMDB), que agora alinhou-se à candidatura de Paulo Hartung (PMDB). Além disto, as publicações de duas pesquisas de opinião – uma do Instituto Futura e outra do Instituto Enquet – , que apontam para a liderança de Paulo Hartung nas intenções estimuladas de votos, levaram à uma acentuada reversão de expectativas de vitória e expectativas de poder – criando, desde já, a impressão de que as eleições estariam definidas no nascedouro.
Tudo somado, o palanque de Paulo Hartung ganhou mais musculatura e começou também a atrair apoios com base na expectativa de poder. Mestre no xadrez político, Hartung inicia a campanha com a imagem de quem vai ganhar as eleições e com palanque fortalecido, enquanto Casagrande aparece como o candidato que teria perdido repentinamente o caminhão de votos que poderia advir dos apoios potenciais de Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço.
Nesta etapa da campanha, estas imagens de quem está forte e quem está fraco influencia a costura de apoios políticos e, principalmente, influencia as definições do mercado empresarial e as opiniões da mídia. Pontos para a candidatura de Paulo Hartung.
Entretanto, agora começa a hora de combinar com Sua Excia. o eleitor. E, aí, é preciso constatar que o volume de indecisos + brancos + nulos, na menção espontânea das pesquisas, ainda é maior do que as intenções de votos assinaladas para Paulo Hartung. Isto significa que, na saída para as ruas, tudo ainda está indefinido e tudo ainda pode acontecer .
É preciso esperar pelo menos até o início de setembro para delinear alguma tendência mais clara nas eleições para governador. Qualquer prognóstico, agora, é apressado e descolado da realidade. “Whisful thinking” também.
No meio do caminho tem uma pedra, digo, no meio do caminho é preciso conquistar os votos desta massa grande de indefinidos e descrentes. Não apenas com as armas costumeiras da política tradicional. Mas também com a disputa pelo melhor capital simbólico e pela melhor capacidade de entrega, a exemplo do quadro nacional.
Nesta direção, a internet poderá ter papel decisivo nas eleições, quase tanto quanto as campanhas no rádio e na TV. A disputa pelo capital simbólico passa por aí.
Indefinição. Esta é a melhor definição, ainda, do quadro geral no Espírito Santo, a exemplo do quadro nacional.