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Contingência de poder

A corrida à prefeitura de Vitória dava pistas de que colocaria no páreo, entre os favoritos, apenas figuras carimbadas da política. Mas a escrita tem tudo para ser quebrada devido às novidades que estão surgindo no cenário. Uma em especial com capacidade de mudar o rumo natural da disputa, porque carrega o fator imprevisibilidade. Esse fenômeno que se processa na segunda principal vitrine política do Estado pode, inclusive, se espalhar para outras disputas.
 
É o caso da pré-candidatura do deputado estadual Amaro Neto (Pros) à prefeitura de Vitória, que recebeu o impulso repentino de um tutor especial, o governador Paulo Hartung (PMDB). PH é quem realmente o orienta, como aqueles que guiam os cegos. Amaro delegou a PH a função de ser seus olhos na disputa política. 
 
Amaro segue sendo apenas um comunicador, valendo-se do êxito de um programa popular que lhe confere uma audiência invejável na TV Vitória. Ele é o responsável direto por essa popularidade, especialmente a conquistada junto à população mais humilde. Tudo isso estaria dentro da normalidade se Amaro estivesse interessado em entrar na disputa para dar apenas mais uma lustrada na sua popularidade. Mas o deputado não está sendo preparado para ser meramente um coadjuvante na disputa. Já se cogita que ele pode sim ganhar as eleições em Vitória.
 
Aqueles que apostavam no apresentador – caso específico de PH -, pensando em usá-lo exclusivamente para barrar o prefeito Luciano Rezende (PPS) do segundo turno, já admitem que as expectativas em torno do candidato são hoje bem maiores. 
 
Já se considera que Amaro tem chances reais de vencer a eleição, e não apenas figurar como coadjuvante no segundo turno ao lado, por exemplo, de um dos favoritos como Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB). 
 
Essa probabilidade de vitória de Amaro, porém, causa pânico em muita gente. O deputado anda para cima e para baixo com um assessor que goza de plenos poderes. O braço direito de Amaro é uma espécie de “faz-tudo”. Tudo mesmo, até de almoços e reuniões ele participa representando o deputado, o que já virou alvo de chacota entre os colegas deputados. 
 
Jefinho era repórter de Amaro durante o período em que o apresentador esteve na Band, em Minas Gerais. Caso Amaro conquiste a prefeitura, Jefinho tem tudo para ser o “primeiro-ministro” do prefeito. Se o apresentador é uma incógnita no páreo, seu braço direito seria outra como manda-chuva da prefeitura.
 
Exagero? Os fatos mostram que não. Jefinho muitas vezes, na prática, é quem exerce o mandato do deputado. Dia desses Amaro incumbiu Jefinho de representá-lo numa reunião de deputados. Só foi barrado porque o deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) bateu o pé e não reconheceu sua “procuração”. Enivaldo advertiu: “Aqui só entra quem é deputado“.
 
Indignado, Jefinho insistiu: “Mas tenho todas as credenciais para representar o deputado.”
 
Enivaldo encerrou a polêmica: “Falta voto e você não tem voto. Aqui só entra quem foi votado para ser deputado estadual.”
 
Mas se Enivaldo endureceu com o “genérico” de Amaro, o mesmo rigor não se viu em outro eventos. Até em almoço oficial Jefinho faz a “boquinha-livre” em nome do deputado.
 
Os fatos mostram o risco que representa uma vitória de Amaro. Se levarmos em consideração o desempenho do deputado na Assembleia Legislativa, onde o seu mandato pode ser considerado uma “anencefalia política”, o que podemos esperar de Amaro prefeito?
 
Mas coisas desse gênero ocorrem quando se constrói estratégias unicamente com o propósito de ajudar a derrotar um adversário competitivo. Competitivo na cabeça dos gestores de poder, no caso é o governador. Ele joga para a derrota de Luciano ainda no primeiro turno.
 
Num primeiro momento foram buscar Amaro, com a sua popularidade concentrada entre as faixas mais pobres da população de Vitória, para ajudar a consolidar o favoritismo de Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB). Mas os planos, de repente, podem tomar outros rumos. Porque o que etá em jogo não é necessariamente a vitória do tucano, mas o fortalecimento das condições para o próprio PH empregar nas eleições para o governo marcada para 2018. 
 
No atual Espírito Santo, eleição continua sendo contingência de poder.

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