Corresponsável
Como de hábito no Espírito Santo, sempre que estoura um escândalo – caso das prisões da diretora-presidente do Iases, Silvana Gallina, e do presidente do Acadis, Gerardo Mondragón, nesta sexta-feira (17) – e o governo não tem mais condições de reverter a situação, são eleitas as cabeças entregues para o sacrifício, na tentativa de que outras sejam preservadas. Como já tratou de fazer o secretário de Estado de Justiça, Ângelo Roncalli (foto), ao dizer à Rádio CBN Vitória que contribuiu com as investigações, numa estratégia de desviar a responsabilidade dos graúdos no esquema. Precisa ficar claro, porém, que o Iases é uma autarquia da Sejus, não tem vida própria, está subordinado a Roncalli. O secretário não só tinha total conhecimento das denúncias, como nunca se interessou em investigá-las. Pelo contrário, garantiu a permanência de Gallina no posto e sempre a defendeu com unhas e dentes. O que Roncalli faz agora é muito mais do que livrar sua pele. Cabe ao secretário atuar como o último soldado, impedindo que os respingos cheguem onde tudo começou: no governo Paulo Hartung (PMDB).
Corresponsável II
Silvana Gallina, é bom que se registre, foi colocada no Iases pelas mãos de Hartung, em 2003, saindo da condição de dedicada ocupante de cargo de assistente social, para a cadeira de uma grande executiva da administração pública. Incluindo, no bolo, a gestão de muitos contratos milionários.
Corresponsável III
No caso de Roncalli, logo que Século Diário tornou pública as denúncias sobre o esquema dos contratos, no ano passado, movimentos sociais do setor encaminharam toda documentação referente ao caso ao governo Renato Casagrande e ao secretário de Estado de Justiça. Nunca houve qualquer manifestação a respeito. Prevaleceram a omissão e a tolerância.
Preço alto
Por essas e outras, quem sai muito no prejuízo na história é o governador Casagrande, por ter mantido em sua gestão a diretora-presidente do Iases. É mais uma herança maldita de seu antecessor.
Preço alto II
Em situação semelhante ou até pior fica outro socialista, o deputado federal Paulo Foletto, que não acreditou no risco de abraçar como sua a candidatura a prefeito de Colatina (noroeste do Estado) do deputado estadual Da Vitória (PDT), envolvido no escândalo. Na época do anúncio de seu recuo em disputar, apesar do desejo dos moradores do município, Foletto elevou Da Vitória à sua altura e praticamente colocou a mão no fogo por ele. Não demorou nada e já se queimou.
Complicou
Os eleitores de Colatina, aliás, estão numa sinuca de bico daquelas. Suas principais opções no pleito são Da Vitória, que nem precisa dizer mais nada, e o prefeito Leonardo Deptulski (PT), acusado de nepotismo e de manter péssimos serviços nas áreas de energia, água e transporte público. Show de horror.
Esquisito
Por ironia do destino ou mais uma daquelas estranhas coincidências, a TV Gazeta colocou no ar na noite dessa quinta-feira (16) uma matéria com foco exatamente na Acadis. Não apontou números e nenhuma informação que pudesse dimensionar a realidade do setor. Produto jornalístico do estilo sem pé nem cabeça.
Por falar nisso…
Lamentável a conduta do delegado que atua o caso, Rodolfo Laterza. Reservou todas as informações sobre as prisões desta sexta-feira (17) para a TV Gazeta divulgar em seu jornal da hora do almoço, negando-as aos demais veículos. Neste caso, a crítica não é contra a TV Gazeta, que fique claro.
Debate superficial
Interessante também no caso Iases é que coloca à tona as inúmeras tentativas de criminalizar os jovens apontados como os responsáveis pela insegurança, principalmente por conta do tráfico de drogas. Mas não levanta a questão sobre o sistema onde estão abrigados. No Estado, além de não recuperar ninguém, ainda tem dinheiro indo para o lugar errado.
140 toques
“Não tem coisa pior na política do que homem sem palavra. Já estou de saco cheio de lidar com essa gente!”. (Vereador de Vitória Max da Mata – PSD – no Twiter).
PENSAMENTO:
“Temos no Brasil um dicionário de abusos de autoridades que vai de A a Z”. Gilmar Mendes