A queda de Eduardo Cunha promete arrastar muita gente pelo caminho. Há uma aflição no ar ante a expectativa do presidente afastado da Câmara resolver pôr a boca no trombone e entregar seus pares. Que Cunha é vingativo, isso não há a menor dúvida.
Na esteira do anúncio da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidiu afastar o então “Todo Poderoso” da Câmara, é interessante observar a reação de alguns aliados, que ficaram meio sem chão com a queda inesperada do líder.
O deputado Carlos Manato (SD), que agora tenta desesperadamente se descolar de Cunha, é um dos integrantes da chamada “tropa de choque” do presidente da Câmara. Manato está com as barbas de molho. É notório que o deputado só chegou a corregedor da Casa por indicação de Cunha, que escolheu a dedo os xerifes que iriam ajudar a blindar seu mandato.
Quanto mais o deputado do Solidariedade tenta se desvincular de Cunha, mais explícita fica sua ligação com o presidente afastado. Manato, em declarações aos jornais do Estado, tenta convencer os eleitores capixabas que sua relação com Cunha era distante, impessoal.
A preocupação do deputado é tamanha que nesta sexta-feira (6) ele postou um vídeo nas redes sociais se dizendo triste com a situação do País. Temendo a ira do líder, Manato falou antes das acusações que pesam sobre Dilma, Lula, Renan Calheiros, Aécio Neves, Michel Temer para, finalmente, incluir Cunha apenas como mais um, e evitar personalizar o fato que está na ordem do dia que é o afastamento do presidente da Câmara. O deputado do Solidariedade dá uma de legalista. Afirma que ordem judicial tem de ser cumprida e ponto final. Em seguida, garante aos eleitores capixabas que sempre estará do lado dos que combatem a corrupção.
Faltou Manato dizer que o Solidariedade, que é comandado pelo Paulinho da Força, de quem o corregedor da Câmara é íntimo. Paulinho é um dos seis deputados que subscrevem nessa quinta (5) um manifesto de apoio a Cunha e de repúdio à decisão do STF.
Manato também deixou de registrar que só está hoje à frente da Corregedoria da Casa porque foi indicado por Eduardo Cunha. O deputado que reivindica a patente de inimigo número 1 da corrupção, também achou que não era importante dar satisfação ao eleitor sobre os R$ 200 mil em doações de campanha, recebidos nas eleições de 2014 de empreiteiras investigadas pela Lava Jato.
Mas seriam muitos questionamentos ao mesmo tempo para Manato. Um ato de covardia contra um deputado que se enrola com as próprias palavras. Ele mesmo admitiu ao jornal A Tribuna (Plenário, 06/05/2016) que Cunha tinha estabelecido uma relação de dependência com quase 1/5 da Câmara. “Dizem na Câmara que ele teria ajudado a eleger quase 80 deputados com captação de recursos. Em troca, foi eleito presidente”.
Completando o deputado, faltou acrescentar que o Solidariedade foi um dos partidos que trabalharam para eleger Cunha presidente da Câmara e que ele, Manato, foi elevado ao cargo de corregedor porque passou no exigente crivo de Cunha como seu “homem de confiança”, o que eram chamados, “os xerifes de Cunha”. Fica o alerta para Manato. Cuidado, deputado! Trair a confiança de Cunha pode custar caro.