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Criando fatos para desviar a atenção

 

Não foi acertada a estratégia do procurador-geral do Ministério Público Estadual, Eder Pontes, de reagir com indignação, quase dez dias depois, às cobranças que o presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Pedro Valls Feu Rosa, fez à instituição.
 
O episódio que abriu uma crise institucional entre TJES e MPES aconteceu na sessão do Tribunal do dia 22 último. Na sessão, Pedro Valls, que é também relator do processo da “Operação Lee Oswald” – que apura as denúncias de corrupção em Presidente Kennedy –, causou um mal-estar nos representantes do MPES ao dizer que não aceitaria a lista dos acusados pela metade. O desembargador queria a lista completa. Foi enfático. Exigia os nomes dos que estavam no “topo da pirâmide”, ou seja, os verdadeiros chefões do crime organizado. 
 
Para mostrar ao ex-chefe do MPES, procurador Fernando Zardini – representante da instituição na sessão – que não estava para brincadeira, Pedro Valls advertiu que não estava se referindo a um caso corriqueiro de corrupção, mas ao “maior escândalo de corrupção da história do Espírito Santo”. 
 
Quase dez dias depois da histórica sessão, na qual o TJES pôs literalmente o MPES na parede, Eder Pontes resolveu protestar. O atual chefe da instituição disse que não vai aceitar “ingerência no trabalho do Ministério Público”. Em seguida, avisou (ao Tribunal) que as críticas têm que ser feitas nos autos. “Não aceito crítica que possa, até de forma sutil, aparentar postura tendenciosa”, desabafou Pontes.
 
Na verdade, de sutil, as críticas de Pedro Valls não tinham nada. Ele não disse isso, mas, em outras palavras, o desembargador deu a entender que o MPES estava fazendo o chamado “corpo mole” para proteger alguns investigados “graúdos”. 
 
Encurralado, Pontes, após passar os últimos dias debatendo com seus pares sobre qual seria a melhor estratégia a ser adotado, encontrou uma saída para tentar desviar o foco da cobrança do Tribunal em um caso de ingerência institucional. 
 
O desabafo do procurador-chefe foi feito estrategicamente na presença do governador Renato Casagrande, durante a posse da nova procuradora Maria Auxiliadora Freire Machado. Pontes quis dar oficialidade à queixa e mostrar ao chefe do Executivo estadual que o MPES estava sendo achacado pelo TJES. Nas entrelinhas, ele quis mostrar que a cobrança do TJES era temerária e que o governador tinha que ajudar a zelar pela independência das instituições. Senão, amanhã, poderia ser o Executivo o alvo das cobranças do presidente do TJES. 
 
No discurso de indignação, que obviamente foi bastante aplaudido pelos membros do MPES que acompanhavam a posse da colega, Pontes ainda deixou um recado ao presidente do Tribunal: “Cada instituição que faça o seu trabalho”. 
 
Esse é justamente o âmago da questão. Pedro Valls cobrou porque faz anos que o MPES não exerce “o seu trabalho”, pelo menos da maneira como a sociedade espera que deveria ser feito. 
 
Eder Pontes deveria deixar de lado o discurso corporativista – o mesmo que a instituição recorre para não cumprir a Lei de Acesso à Informação -, parar de criar fatos para desviar a atenção da sociedade e entregar logo a lista completa à Justiça, como quer o desembargador Pedro Valls. 
 
Seria uma oportunidade única para Pontes mostrar que o MPES também quer viver um novo ciclo. 

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