Em seu discurso de posse na Assembleia Legislativa, no dia 1º de janeiro de 2011, o governador Renato Casagrande disse aos deputados que pretendia manter a harmonia com o legislativo, para não acordar em “sobressaltos” à noite. Já no início de seu mandato, parte dos deputados não gostou da maneira de Casagrande lidar com os parlamentares. Vieram os atritos.
O ex-governador Paulo Hartung (PMDB) controlava a Assembleia com mão de ferro, mas havia a boa e velha barganha, com cargos, emendas e a presença constante dos deputados ao lado do governador nas inaugurações em suas bases. Casagrande adotou uma forma horizontal de conversa com os deputados, mas não atende às demandas dos parlamentares.
Houve também o entrevero com o presidente da Casa, Theodorico Ferraço (DEM), por causa da presidência, temperado com a mágoa do abril sangrento do filho do demista, o senador Ricardo Ferraço (PMDB) em 2010, quando Casagrande foi colocado na disputa ao governo no lugar do então candidato palaciano, Ricardo Ferraço. Essa movimentação também deu dor de cabeça para Casagrande.
Mas os problemas começaram mesmo com a eleição municipal que tirou cinco deputados da Casa, abrindo espaço para suplentes incômodos para o Palácio Anchieta. Euclério Sampaio (PDT) era uma pedra no sapato que o governo tentou evitar a todo custo. O deputado deveria ter entrado antes, inclusive diante dos problemas de saúde do deputado Luiz Durão (PDT), mas uma série de manobras evitou a entrada dele na Assembleia.
O governo já conhecia a postura sempre crítica do deputado, que já havia dado trabalho durante o governo Paulo Hartung. Em seu retorno ao Legislativo, Euclério voltou ainda mais explosivo, pegando bandeiras de apelo popular, que deixam o Executivo e os colegas de plenário em situação difícil.
Com a chegada, pela janela, de Paulo Roberto (PMDB), a situação ficou ainda mais complicada. Líder do governo Paulo Hartung, o peemedebista tem feito direitinho o papel de provocador, tanto que conseguiu tirar o governador do sério na prestação de contas recentemente.
Mesmo faltando um discurso mais elaborado, mais eficiente, os dois deputados têm conseguido um efeito que há tempos na se via no legislativo. O debate se qualificou. Os projetos têm trazido para o plenário discussões, muitas vezes inflamadas, que tem levado a um saudável debate entre a Casa e o Executivo, como tem que ser.
Dizer que eles restabeleceram o estado natural da democracia é exagero, mas a movimentação dos deputados deixa claro que qualquer oposição é melhor do que nenhuma.