Navelina é o nome da mais recente variedade de laranja colocada no mercado brasileiro de frutas importadas. Ela custa três vezes mais do que a laranja comum (pera, que se chamava pera-Rio e hoje é cultivada em todo o Brasil) não só porque é mais bonita e saborosa, mas porque vem da Espanha, do Uruguai e da Argentina.
Não se admirem se um dia as navelinas vierem da Bahia, o que significaria uma volta completa na história, pois a navelina descende da laranja de umbigo, popularmente conhecida como laranja baiana. Voltas que o mundo dá para chegar ao mesmo lugar.
A laranja dita navelina é pequena e seu umbigo foi bastante reduzido. Assim, o que ela apresenta como características mais próximas de sua bisavó é a cor brilhante e, ainda, “o sabor infinitamente doce”, como escreveu há 200 anos o pintor francês Jean Baptiste Debret, encantado com a frutaria brasileira. Se bem que num mano a mano a baiana dá de 7 a 1 na navelina.
Mas falta explicar aqui porque uma descendente da laranja mais típica da Bahia foi batizada com um nome tão…tão…senvergonha.
É uma história que começa em 1873, quando saíram de Salvador da Bahia para San Francisco da Califórnia, num navio mercante, três mudas da laranjeira baiana. Na viagem elas sofreram “injúrias” mas duas mudas sobreviveram, foram plantadas e se tornaram uma das bases da poderosa citricultura do sul dos EUA.
Por não possuir sementes, a baiana só podia ser propagada por enxertia, usando borbulhas da árvore-mãe sobre “cavalos” resultantes de sementes de outras variedades como o limão galego, entre nós chamado também de limão cravo.
Vejam a dinâmica da linguagem popular. A tangerina ponkan, de origem japonesa, tornou-se entre nós a pocã. A Murcott, americana, virou murgote. Mas nos EUA a laranjeira baiana foi rebatizada com um nome nacionalista americano: Washington Navel, ou seja, Umbigo de Washington.
Foi uma das maiores puxadas de saco da história da botânica. Com esse nome gringo, a laranjeira baiana foi exportada para todo o mundo. E agora uns comerciantes nos mandam a navelina. E nós brasileiros compramos como algo original.
A única coisa original na navelina é o nome. No fundo, trata-se da baiana. Por isso é preciso prestar atenção para não comprar gato por lebre.
O mundo está cheio de navelinos prontos a enganar os incautos.