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Cúmulo da desfaçatez

É o cúmulo da desfaçatez o governador Paulo Hartung (PMDB) insistir no refrão que está completamente apartado do processo eleitoral. Dia desses, confrontado sobre sua ingerência na disputa, num misto de ironia e indignação, Hartung desafiou o interlocutor a encontrar o seu “DNA” nos pré-candidatos considerados palacianos.
 
Nesse domingo (31), em entrevista ao jornal A Tribunal, o governador voltou a afirmar que está alheio à disputa eleitoral. Ele repete isso com a maior naturalidade, dando azo a outro discurso de ocasião: o de sagra-se o gestor nacional que desenvolveu a receita infalível para enfrentar e vencer a crise econômica. E solta frases de efeito, sem se deixar enrubescer: “Estou numa campanha só, para fazer um bom governo”; ou: “Só estou ligado no ato de governar. O resto é fantasia”. 
 
Afirmar que o “resto é fantasia” é subestimar a inteligência do cidadão capixaba que acompanha mesmo de longe a movimentação política pré-eleitoral. 
 
Para provar o tamanho da sua ignorância em relação ao processo, ele beira cinismo. Diz, por exemplo, desconhecer os candidatos que vão disputar a eleição em Cariacica. Ora, aí já é demais! Afinal, o repórter não perguntou ao governador a quantas anda o cenário eleitoral em Laranja da Terra, com todo respeito aos laranjenses, mas sobre um dos municípios mais importantes do Estado. O terceiro em população (381 mil habitantes) e eleitores (252 mil). 
 
Definitivamente, não dá para engolir esse discurso, sobretudo quando se vê nitidamente as movimentações do governador interferindo no processo. Na contramão do seu discurso, as articulações de Hartung estão cada vez mais explícitas. A interferência extrapola o contexto político e invade as instituições, que são usadas para perseguir adversários e proteger aliados. 
 
Esse jogo é, ao mesmo tempo, explícito e velado, ou seja, todo mundo sabe que existe, mas não consegue provar. São esses movimentos velados que, de uma hora para outra, por exemplo, fazem um processo criar asas e voar, encontrando atalhos improváveis na burocracia do Ministério Público, rompendo a pasmaceira da Justiça ou caindo “aleatoriamente” na malha fina do Tribunal de Contas. 
 
Sobram exemplos para identificar as digitais palacianas no processo político. As manobras para tentar tirar do jogo o ex-governador Renato Casagrande (PSB) é o caso mais clássico. 
 
Desde que assumiu o governo, Hartung vem investindo contra o antecessor. Depois da tentativa de linchamento público do mandato do socialista, que não vingou, Hartung lançou mão da CPI dos Empenhos, que serviria (ou servirá) de pano de fundo para a reprovação das contas de Casagrande (referentes a 2014) na Assembleia. 
 
Como parte dessa manobra ficou evidente o conluiou do Ministério Público de Contas, que fez de tudo para carimbar o selo de reprovação nas contas do ex-governador. Assim como a CPI operou, até agora, sem sucesso, para incluir Casagrande entre os indiciados no relatório final.
 
Caso uma dessas manobras tivesse funcionado, o processo eleitoral teria uma configuração completamente diferente da atual. Teríamos um processo de palanque único, com Hartung reinando absoluto, determinando quem seria prefeito e onde. 
 
A sobrevivência política de Casagrande está assegurando minimamente um verniz democrático ao processo eleitoral, pelo menos há espaço para o contraditório. Excluir Casagrande seria o caminho para assegurar, mais uma vez, a unanimidade. Desta vez não deu. Por isso é mais cômodo para Hartung se dizer alheio ao processo para não precisar admitir que está em luta direta com o seu maior rival político. Hartung acredita que, mantendo-se como um espectro, tem a possibilidade de não contabilizar as derrotas no final das batalhas.

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