Lixo é um substantivo bem comum, que todos nós produzimos e do qual temos que nos livrar. Mas o que uns consideram lixo, pode não ser para outros. O termo também varia de acordo com a cultura e os tempos. Produzimos mais lixo nos últimos 40 anos do que em toda a história da humanidade. O escritor uruguaio Eduardo Galeano publicou um pungente artigo sobre um tempo em que as coisas não eram descartáveis – eram guardáveis.
“Os jornais serviam para tudo: forrar o chão nos dias de chuva, limpar as vidraças, fazer embrulhos”. A carne era vendida no açougue e vinha embrulhada em folha de jornal. Também nas antigas mercearias eram usados para embrulhar o que não fosse grão; só para esses gastavam as sacolas de papel pardo. O papel prateado dos chocolates e maços de cigarros eram usados para fazer enfeites de natal, pulseiras, brinquedos.
Com ele também se fazia um coração entrelaçado cuja complexa técnica, confesso, jamais consegui dominar. As belas estampas dos calendários, então obrigatórios em uma parede de qualquer casa, eram usados para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios eram meticulosamente guardados, caso faltasse em algum vidro. Fósforos usados eram guardados para acender o fogão e as velas.
Galeano lembra que as caixas de sapatos foram os primeiros álbuns de fotos. Sim, houve em tempo em que guardávamos tudo, porque tudo era difícil de se obter. Hoje ninguém quer guardar nada, e o supérfluo está nos matando. Porque o descartável leva ao excesso de consumo, que leva ao excesso de lixo. Se desfazer do lixo é um problema não apenas financeiro, consumindo bilhões no mundo todo, mas também social. O que fazer com tanto lixo? Já existe uma sigla que bem define o problema: NIMBY – Não no meu quintal (Not In My Back Yard).
Tem um velho provérbio (redundância: todos os provérbios são velhos?) que diz: Nada deseje, nada desperdice. Sábio conselho, totalmente obsoleto em um tempo em que a mídia sobrevive nos induzindo a desejar tudo. Queremos o modelo mais novo, a última tecnologia, a versão mais incrementada, mesmo que o ainda em uso esteja em bom estado. Mas deixou de ser moda. É o caso dos celulares descartados, um dos piores poluidores da atualidade.
Os Estados Unidos estão em primeiríssimo lugar na produção de lixo per capta/per ano: 766 quilos; segundo a Austrália: 690 quilos; terceiro a Dinamarca: 660 quilos. Conseguimos ficar de fora desse desonroso pódio, mas não estamos livres dos pecados capitais. Na emissão de CO2, ainda os States no primeiro lugar, com 5.762 milhões de toneladas, seguidos da China com 3.473 milhões, e a Rússia em terceiro com 1.540 milhões. Pegamos o 15º. Lugar, com ‘apenas’ 338 mil toneladas.
Veja que a soma do segundo e terceiro lugares é menor que o total americano. Paradoxalmente, nos Estados Unidos: compram roupa e objetos usados – as tradicionais garage sales e yard sales abundam nos fins de semana, mesmo nos bairros mais nobres; levam marmitinha de almoço para o trabalho, mesmo os muito bem pagos; levam para casa as sobras do que comeram nos restaurantes, mesmo os ricos. No Brasil, tudo isso é coisa de pobre.
Na era do desperdício, o guardável perdeu a guerra contra o descartável, e o mundo não melhorou em nada por causa disto. Madre Teresa disse, “Deve ter uma razão para algumas pessoas viverem bem. Elas devem ter trabalhado muito para isso. Só tenho raiva quando vejo desperdício. Quando vejo alguém jogar fora coisas que nós poderíamos usar”. Ou que fazem falta para outros.