São muitas homenagens no Dia Internacional da Mulher: flores, bombons, presentes e descontos em serviços, sobretudo os ligados à beleza e à estética. Tudo isso, as jovens, adultas e idosas podem até apreciar, mas passa muito longe do que significa a data. No Espírito Santo e no mundo, o dia é de “grito”. Grito contra a desigualdade de gênero, grito contra a violência e a opressão, grito contra a omissão do Estado.
As mulheres esperam ser homenageadas, em primeiro lugar, com o direito à vida. Muitas morrem precocemente pelo simples fato de terem nascido como tais. Diante de tantos crimes, dia após dia, foi aprovada a Lei do Feminicídio, homicídio qualificado, quando ocasionado pela simples questão de gênero. São namoradas, noivas, esposas ou ex que sofrem atentados daqueles que já declararam “amor”, mas, que, na verdade, sentem posse. Como se a mulher fosse um objeto de propriedade exclusiva e intransferível.
Não, o 8 de Março não é um dia de flores e bombons. Diferentemente de diversas outras datas comemorativas, essa não foi criada pelo comércio. Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, é celebrado para marcar inúmeras lutas de mulheres que surgiram muito antes do século 20, trabalhadoras que lutavam por melhores condições de trabalho, pelo direito ao voto e pelo fim do trabalho de seus filhos, que era permitido naquela época.
Desde o final do século 19, operárias que atuavam, sobretudo, na indústria têxtil, protestavam contra jornadas de trabalho de até 15 horas diárias a baixos salários. Em 1909, mais de três mil mulheres caminharam em protesto pelas ruas de Nova York e, em 1909, houve uma greve que quase fechou muitas tecelagens. Na Rússia, em 8 de março de 1917, operárias russas saíram às ruas para se manifestar contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, o que se tornou o princípio da Revolução Russa.
Mantendo a tradição que está na origem do 8 de março, neste ano, no Espírito Santo, a data foi marcada mais uma vez com o necessário “grito” em passeata pelas ruas da Capital, encerrada com a entrega de uma carta ao governador Paulo Hartung, omisso em efetivar políticas públicas direcionados a essa segmento. Essa leniência tem contribuído de forma decisiva para que o Estado lidere, há quase duas décadas, os rankings nacionais de violência e feminicídio, principalmente de mulheres negras e pobres.
Realizado pelo Fórum de Mulheres do Estado, o documento voltou a cobrar de Hartung: “Gostaríamos muito de comemorar o Dia Internacional de Luta da Mulher, entretanto, a realidade das mulheres no Brasil e, principalmente no Espírito Santo, não nos permite. Vale reafirmar que ainda estamos entre os primeiros lugares no ranking de feminicídio. Só no ano passado, mais de 100 mulheres foram assassinadas, a maioria, negras. Exigimos do Estado que essa realidade de feminicídio seja enfrentada e não ignorada, como tem acontecido. Exigimos também a efetivação da Lei Maria da Penha de forma que envolva todos os organismos governamentais do executivo, do legislativo e do Judiciário na sua aplicação. É necessário efetivação de políticas públicas de prevenção e de combate a todas as formas de violência contra as mulheres. Não queremos que a violência se mantenha como parte do nosso cotidiano”.
Esse mesmo “grito” das mulheres capixabas ecoa também no País, onde uma mulher é assassinada a cada duas horas, de acordo com as estatísticas. Outro dado ainda revelador: apesar de as mulheres terem um nível educacional mais alto, elas ganham, em média, 76,5% do salário masculino, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esqueça as flores e os bombons. Quantas décadas mais serão necessárias, até o 8 de março se tornar um dia para ser igual?