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Deu branco?

Nos próximos dias, quando for questionado sobre o motivo de ter omitido à Justiça Eleitoral que tem uma senhora mansão encravada nas montanhas de Pedra Azul, umas das regiões mais valorizadas do Estado, Paulo Hartung não poderá dizer que na hora H “deu branco”, e que ele acabou se esquecendo que é dono, junto com a mulher, Cristina Gomes, de uma cinematográfica mansão. 
 
Antes que o ex-governador comece a tergiversar sobre os fatos, vamos esclarecer alguns pontos. Quem analisar a declaração de bens que o candidato ao governo pelo PMDB entregou à Justiça Eleitoral vai perceber que foram incluídas as informações que ele julgou condizentes com os ganhos de um agente público que está na carreira política há mais de três décadas – foi eleito deputado estadual, aos 25 anos, em 1983.
 
À Justiça Eleitoral ele declara um apartamento de 250 metros quadrados no valor de R$ 617 mil na Praia da Costa (deve valer pelo menos o dobro, mas tudo bem), participação em uma empresa de palestras e assessoria (R$ 70 mil) e aplicações financeiras, a maior delas no valor de R$ 134 mil. Valor total dos bens: R$ 979.023,35. 
 
Moral da declaração de Hartung: para aqueles que estabelecem como meta de enriquecimento juntar o primeiro milhão antes dos 40 anos, nosso ex-governador, depois de anos e anos de dedicação à vida pública, chegou perto, mas, aos 57 anos, ainda não conseguiu fazer seu primeiro milhão, pelo menos oficialmente. 
 
Extraoficialmente, ou clandestinamente, o ex-governador já atingiu a meta do milhão faz muito tempo. Só a mansão de Pedra Azul, no condomínio Villaggio Verdi, vale por baixo R$ 2 milhões. Como Hartung não declarou à Justiça Eleitoral que é proprietário de uma mansão, a omissão dá margem para que a população deduza que há outros bens que foram suprimidos da declaração. 
 
Paulo Hartung premeditou não declarar a propriedade. A decisão foi estratégica. Ser dono de uma luxuosa mansão numa das regiões mais nobres do Estado, reduto preferido das elites capixabas, poderia gerar suspeitas. Em tempos de intolerância à corrupção, o eleitorado poderia pensar que o ex-governador enriqueceu ilicitamente. Afinal, como um agente público consegue juntar dinheiro honestamente para edificar uma mansão com este padrão – digna para ser exibida nestas publicações especializadas em arquitetura e decoração?
 
Mais prudente esconder, não é? Como ele está fazendo com o caso das passagens utilizadas pela ex-primeira-dama em viagens nos fins de semana para São Paulo e Rio. Haartung enrola, enrola, mas não esclarece por que Cristina Gomes viajou 41 vezes, desacompanha, para as duas capitais, à custa do dinheiro público.
 
Hartung também não explicou as transações suspeitas da consultoria Éconos. Mas é bom que a população saiba que já existe um processo contra Século Diário por ter publicado uma série de reportagens que desvelam as operações da consultoria. 
 
Aliás, o caso da Éconos guarda semelhança com a “mansão secreta”. Agora fica fácil de entender por que Hartung teria abandonado a sociedade na consultoria com o ex-secretário da Fazenda, José Teófilo. Quem em sã consciência abriria mão de uma empresa que fatura R$ 6 milhões em menos de três anos. Mas Hartung, que foi sócio entre maio de 2011 e julho de 2013, decidiu pular fora do barco. 
 
Não há como implodir a mansão e construir novamente, mas a saída da consultoria foi estratégica e ele pode retornar a qualquer momento. Em julho de 2013, quando deixou a Éconos, Hartung já sabia que concorreria ao governo. E antes que alguém resolvesse vasculhar sua vida, ele se antecipou rompendo a sociedade com Teófilo. 
 
Seria difícil explicar ao eleitor por que empresas como empreiteiras, concessionárias de serviços públicos e beneficiárias de incentivos fiscais se tornaram, da noite para o dia, os clientes mais importantes da consultoria. De repente, deu um estalo nas empresas e todas elas decidiram que deveriam recorrer à consultoria de Hartung. 
 
A propósito, falta o ex-governador explicar onde guardou parte dos R$ 6 milhões que faturou com a consultoria. Será que foram gastos para construir a mansão que não existe?
 
O leitor Jonas Souza, comentando a reportagem sobre a “mansão secreta”, foi muito preciso na sua ponderação: “Acho que a maior discussão desta eleição é a atitude dos homens que querem nos representar”. Disse tudo. 

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