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Dilma e Hartung na transversal do tempo

Dilma Rousseff, lá, e Paulo Hartung, cá, iniciam seus respectivos mandatos com uma semelhança política: ambos conquistaram apertada maioria pelo critério de votos válidos nas suas respectivas eleições. E ambos foram eleitos com volume acentuado de alienação eleitoral (brancos + nulos + abstenções): na faixa de 30% dos votos totais. São vitórias eleitorais legítimas e incontestáveis, mas são vitórias política limitadas, que já os levou à formação de governos de coalizão.
 
Coalizão mais ampla no Brasil e menos ampla no Espírito Santo. Mas coalizão. Na transversal do tempo, com o país pedindo mudanças e com um novo “espírito de época” em ebulição e formação, Dilma e Hartung vão ter que procurar dialogar não só nos que votaram neles e nos seus respectivos adversários, mas também com aqueles que optaram pela alienação eleitoral. Dobrar resistência e descrenças. Construir pontes para inclusões políticas. Principalmente: promover entregas e acumular capital simbólico, este último um bem que se tornou escasso e ajudou a estimular a alienação eleitoral.
 
Na transversal do tempo, o nome do jogo parece ser transversalidade.
 
No Brasil, Dilma Rousseff entra no amanhecer do seu segundo mandato com um olho na sociedade e outro no Congresso. A formação da equipe, que ainda pode receber reparos e modificações, aponta nesta direção. A agenda econômica tem centralidade. Mas ainda precisa ser reafirmada e praticada para reverter expectativas. Mas as outras agendas ainda não estão claras, ainda estão genéricas.
 
É preciso dar ainda o passo da articulação entre as propostas setoriais e explicitar como será construída a possibilidade da transversalidade para desaguar no objetivo maior: crescimento com inclusão, inovação e sustentabilidade. Enquanto isto, aquele 1/3 de eleitores que optou pela alienação eleitoral, somado ao contingente expressivo dos que votaram em Aécio Neves, juntos ainda torcem o nariz e manifestam desesperança e incredulidade, com pitadas de ódios políticos no meio.
 
O tempo político não está a favor de Dilma Rousseff. Até agora. Na transversal do tempo.
 
Já no Espírito Santo, Paulo Hartung formou uma boa equipe de governo, mesclando experiência técnica e política com potencialidade de novos gestores. A maioria da equipe, é claro, é conhecida. Ao longo de sucessivos mandatos, Hartung acabou formando “tropa de ocupação”. Ele tem equipe e agora parece ter-se convencido que é preciso apostar na formação de novas lideranças, dentro e fora da seu grupo e sua “tropa” tradicional. A conferir.
 
A equipe econômica de Hartung é boa,incluindo-se, aí, também, o BANESTES, com Guilherme Dias. Ana Paula Vescovi aponta para a centralidade da entrega e da responsabilidade fiscal. Isto é bom. Mas não se pode apenas focalizar a gestão de meios. É preciso apontar para os fins, isto é, para os objetivos finais e concretos do novo governo.
 
Hartung primeiro falou para a máquina, para o público interno. Agora precisa começar a falar também para a sociedade, para o público externo. Para a máquina ele já deu o recado geral: fazer mais com menos, buscar o caminho do governo digital. Governo digital. Este é o caminho. Mas não é simples. Mudanças culturais, não apenas tecnológicas.
 
Para a sociedade, agora as observações genéricas e a listagem de projetos precisam passar pelo crivo da transversalidade. E a transversalidade tem o mesmo nome: desenvolvimento sustentável, inovação. Como fazer as secretarias e órgãos convergirem para a sinergia da transversalidade e superarem a cultura burocrática e patrimonialista? Como “falar” com a sociedade e agir com a sociedade?
 
Como Dilma, Hartung precisa dialogar também com os eleitores do seu adversário Renato Casagrande e, principalmente, dialogar com aquele 1/3 de capixabas descrentes e impacientes. Para ultrapassar a transversal do tempo.
 
Politicamente, 2015 já começou com um caminhão de dificuldades e obstáculos pela frente…

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