A juventude de hoje busca realizar e obter tudo rapidamente, denunciando o comportamento impulsivo e impaciente que vem sendo consolidado nessa nova geração. Podemos relacionar alguns fatores que estimulam isso. Já observaram como as crianças, os adolescentes e os jovens diariamente estão conectados à várias tecnologias simultaneamente? Usam ao mesmo tempo telefone celular, computador, música, TV, jogos, o que há pouco tempo atrás era contraindicado para a concentração nos estudos, mas hoje faz parte do perfil desta geração, um estado de conexão permanente. Velocidade é o ritmo normal deles.
Há poucas décadas as pesquisas eram feitas em livros, revistas e jornais e escritas manualmente ou datilografadas, porque no Brasil ainda não havia computador, muito menos internet. Aquela geração jovem à época, tinha que ter persistência e paciência para localizar o que pesquisava, diferente da geração atual que já nasce conectada.
Essa busca pelo resultado rápido tem reflexo também nas relações interpessoais e profissionais. Com cada um conectado ao mundo e de forma individual, passa a existir a dificuldade de relacionamento, provocada pela escassez de diálogo, de treino de exposição de “pontos de vista” diferentes, do exercício da argumentação e da contra-argumentação, do falar e do escutar. Simples práticas da vida diária que foram ficando escassas com o passar dos anos, sem que nos déssemos conta, e hoje colhemos as consequências disso.
Outro reflexo originado da pressa desta geração, ocorre no momento da escolha da carreira profissional. As profissões são escolhidas, geralmente, pela garantia de um retorno financeiro “farto”, preferencialmente, rápido e pelo prazer. Ingressam no mercado de trabalho e, sem o hábito de dialogar, sem o treino da escuta, também não se prendem a emprego, não criam raízes, não se comprometem. Diante de algum entrave ou decepção deixam o emprego e saem à procura de outro.
Os jovens optam por profissões bem remuneradas, para custearem o comportamento cada vez mais arrojado nas despesas, mas não nas “economias”. Ganham bem, mas gastam melhor ainda.
Fazem parte de uma geração que está cada vez se endividando mais, com tecnologia, carros, roupas e baladas. Nada que dê retorno financeiro atual ou mesmo em longo prazo.
O perigo reside nas escolhas, pois sendo treinados a obterem tudo rápido, tendem a almejar a enriquecer também rapidamente; logo, não aceitam “começar de baixo”. Já querem iniciar a carreira como presidente.
Aí as escolhas erradas acontecem. Jovens ganhando a vida fazendo programa, traficando… Escolhas onde o dinheiro entra rápido, fácil, mas de forma perigosa, impondo riscos à saúde financeira e à própria vida. Parece mesmo mais difícil de tratá-los depois que ingressam nesse mercado. Querem obter num dia, o que muitos precisam de meses para ganhar, ou seja, buscam facilidade e rapidez no acesso ao dinheiro.
O dinheiro que entra fácil parece viciar, por outro lado estimula o comportamento de consumo descontrolado, saindo também, na maioria das vezes, na mesma velocidade.
Ivana Medeiros Zon é assistente social, especialista em Saúde Pública e em Estratégia Saúde da Família. Autora do Projeto Saúde Financeira na família: uma abordagem social, com foco em educação financeira.
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