O governador Paulo Hartung (PMDB) vive uma situação inédita neste terceiro mandato. Mesmo como a máquina na mão e com a vantagem de saber usá-la, ele já não consegue exercer controle absoluto sobre o processo eleitoral que se aproxima, como sempre fez nas disputas de 2003 para cá.
O clima de incerteza que afeta o país, com o presidente Michel Temer (PMDB) balançando na corda bamba a cada nova denúncia, também se espalha pelos estados. Aqui, o processo político é de total incerteza. PH, o principal protagonista desse processo, não sabe ao certo nem que cargo disputará. Essa indecisão, desta vez, não tem nada a ver com estratégia, mas com incerteza mesmo.
Logo que assumiu o mandato de governador antecipou-se sobre a disputa de 2018. Avisou que não disputaria a reeleição. Disse que sua missão era preparar uma três ou quatro lideranças para sucedê-lo. Antes mesmo de tomar posse, também fez questão de tornar público sua reconciliação com o senador Magno Malta. O armistício com o senador do PR seria interpretado pelo mercado político como a indicação do caminho de PH em 2018: o Senado. A movimentação deixou claro que Hartung queria se lançar ao Senado, fechando o campo com Magno Malta.
Mas as coisas não têm saído como PH havia imaginado. Longe disso. O campo para o Senado está cada vez mais povoado. Magno Malta, como o próprio Hartung previu lá atrás, segue sendo o candidato favorito para uma das vagas. Ricardo Ferraço (PSDB) vem atravessando turbulências desde que seu nome surgiu no âmbito da Lava Jato, mas vem ganhando projeção (não se sabe se mais negativa que positiva) com a relatoria da Reforma Trabalhista. É outro que pisa em ovos. Ele não tem ainda a menor ideia de como essa militância pela reforma será interpretada pelas urnas.
Nesse cenário que prevê a briga no andar de cima, já teríamos três candidatos para duas vagas. Mas há duas novidades se movimentando para entrar nessa briga. Os deputados estaduais Amaro Neto (SD) e Sérgio Majeski (PSDB). Amaro é sempre uma incógnita. Os adversários não podem nem pensar em desprezá-lo. O então candidato a prefeito de Vitória em 2016, que chegou a ser rotulado de “palhaço” na disputa, não venceu Luciano Rezende (PPS) por muito pouco: 4.424 votos separam os dois candidatos
Vale ainda recordar que o deputado foi o mais votado nas eleições de 2014. Pôs nas urnas 55,4 mil votos, superando veteranos, como os campeões de votos Theodorico Ferraço (DEM) e Hércules Silveira (PMDB). Acrescenta-se a esse invejável retrospecto a visibilidade que Amaro tem na mídia com seu programa popular de TV, diferencial que nem um outro concorrente tem.
A outra novidade que pode aparecer na corrida ao Senado é Sérgio Majeski. Esta semana, o deputado fez uma movimentação que chacoalhou o mercado político ao se encontrar com representantes da Rede do prefeito da Serra Audifax Barcelos. A Rede, espertamente, pulou na frente de outras agremiações ao perceber o mau momento do deputado no PSDB. O partido de Marina Silva ofereceu legenda para Majeski disputar o Senado, compondo uma virtual chapa com Audifax governador. As conversas ainda são preliminares, mas Majeski revela, cautelosamente, que o Senado pode ser sim um destino interessante para seu futuro político.
Quando PH olha para o campo, se estiver enxergando bem, também deve considerar esse cenário: cinco potenciais candidatos para duas vagas. Fora os que podem surgir pelo caminho e minar algumas candidaturas. Como o ex-governador Renato Casagrande (PSB), que também não sabe para que lado seguir. Mas que também pode entrar nessa corrida, inflacionando para seis candidatos na linha de largada, elevando a média para seis candidatos para duas vagas.
Essa dificuldade aumenta se admitimos que Hartung já não dispõem das mesmas armas de outrora. O discurso do crime organizado, que o elegeu na disputa de 2002 e o reelegeu em 2006, já se esgotou faz tempo. PH nem pode reclamar, porque tirou leite de pedra dessa conversa de crime organizado. No início do seu primeiro mandato, ele apontava o dedo para arbitrar quem era do “bem” e do “mal”. Tudo isso com as bênçãos da Igreja Católica, representada à época pelo arcebispo de Vitória, Dom Scandian, que, aliás, está “arquivado”. Graças a Deus!
A campanha vitoriosa do terceiro mandato foi pautada na urgência de tirar o Espírito Santo do buraco. Para quebrar o pacto da continuidade que fechara com Renato Casagrande, Hartung se insurgiu contra a gestão do socialista, acusando-o de ter “quebrado” o Estado. Na campanha, ele justificava sua volta, alegando que precisava pôr a “casa em ordem” novamente.
Essa, aliás, não foi só a narrativa para elegê-lo como também a que serviu para “unir todos os capixabas” em torno de um objetivo comum: tirar o Espírito Santo da crise. Até o mundo cair cair sobre sua cabeça de Hartung com a delação de Benedicto Júnior, que o jogou na vala comum dos políticos manchados pelo esquema da Odebrecht.
Antes da delação, Hartung vinha promovendo sua imagem, sobretudo para fora do Estado, como o governador que descobriu a fórmula para enfrentar e vencer a crise. Passado o impacto mais fulminante das delações, ele arriscou pôr a cabeça pra fora para sentir o clima das ruas. Parece ter gostado. Pelos menos é que revela sua agenda, cada vez mais intensa.
Com a atenção da sociedade toda voltada para os palcos de Brasília, os atingidos pelas denúncias nos estados acabaram ficando um pouco esquecidos. PH sabe, porém, que numa disputa não poderá sair atirando para todos os lados. Muito ao contrário, ele vai querer passar bem longe de qualquer assunto que possa reacender as denúncias.
É em função desse cenário adverso que PH vem quebrando a cabeça para tentar tirar Majeski do seu caminho. Caso o deputado entre na disputa majoritária, ele passa a estabelecer um bunker frontal ao palanque de Hartung, com a vantagem de poder atirar à vontade, sem se preocupar com o revide, já que para entrar nessa guerra o requisito primordial é a ficha limpa. Nesse quesito, PH fica sem munição.