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Do lado da democracia

Não são poucos os leitores que apostam que Século Diário é “financiado” pelo PT, uma espécie de braço do partido no Estado. Quem dera Lula e Dilma tivessem destinado um pequeno quinhão das verbas de publicidade que irrigaram a imprensa nacional nesses últimos 13 anos para esse pequeno veículo alternativo que é obrigado a matar um leão a cada dia para sobreviver. Não existe viés partidário nesta posição, mas uma defesa intransigente da democracia.
 
O preâmbulo, embora fadado à inépcia, é uma tentativa de mitigar as enxurradas de críticas que geralmente acompanham posições contrárias ao impeachment, que se tornou quase unanimidade na imprensa. 
 
Agora que o afastamento da presidente Dilma já se tornou um fato praticamente irreversível, e as reflexões já se descolam um pouco do calor dos acontecimentos das últimas horas, Século Diário se sente mais confortável para reafirmar que o processo de impeachment, como foi conduzido nas duas Casas legislativas do Congresso Nacional, constitui uma manobra ilegítima de se apropriar do cargo de uma presidente eleita legitimamente por mais de 54 milhões de brasileiros.
 
Nos relatórios que fundamentaram a admissibilidade do processo de impeachment na Câmara e no Senado — justiça feita ao Senado, que evitou dar o tom circense à sessão como fizeram os colegas da Câmara — prevaleceram os mais estranhos argumentos ao objeto que motivou o impeachment. Ou alguém pode afirmar categoricamente que a maioria dos deputados e senadores analisou com propriedade os decretos sobre créditos suplementares e o suposto inadimplemento da União com Banco do Brasil no Plano Safra, as chamadas de pedaladas fiscais?
 
Se boa parte dos parlamentares votou à revelia do real motivo do impeachment, apresentando os motivos mais funestos para afastar a presidente, imaginem como o cidadão médio assimilou tudo isso. Será que ele sabe responder qual é o crime que está derrubando a presidente? Mesmo os que se dizem informados, os chamados “formadores de opinião” das redes sociais, impingem a Dilma os mais diversos crimes, mas não conseguem analisar didaticamente se as pedaladas fiscais seriam suficientes para tomar o mandato da presidente. 
 
Nas ruas ou nas redes sociais, os segmentos mais humildes da sociedade processam essa enxurrada de informação pela superfície. Associam as causas do impeachment de Dilma, sobretudo, à Lava Jato. O cidadão médio está convencido de que Dilma foi afastada saiu porque é corrupta; roubou junto com Lula; quebrou o Brasil, a Petrobras e outras coisas mais. Eles também consideram que o juiz Sergio Moro é herói que derrubou Dilma.
 
E a expectativa sobre Temer? O presidente interino, na visão do cidadão médio, chega para pôr ordem na casa, dar um basta à roubalheira, gerar emprego, domar a inflação, enfim, fazer o País retomar o caminho do crescimento. O cidadão, sobretudo o da classe D, está cheio de esperança. Ele acredita que o novo presidente será capaz de devolver pra ele o passaporte da alegria que dá livre acesso à ciranda do consumo. Afinal, todo mundo quer voltar a consumir, da classe A à E, cada um à sua maneira, o importante é voltar para o transe da roda do consumo. 
 
Lamentavelmente, na ciranda capitalista os valores da democracia passam a ser secundários. Se a economia estivesse girando na velocidade que girou entre 2003 e 2012, alguém tem uma ponta de dúvida sequer que esse impeachment que está depondo a presidente não teria nem saído da gaveta?

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