Quem tiver um pouco de tempo e paciência para navegar pelo site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai poder confirmar que os candidatos que disputam os cargos de prefeito e vereador nas eleições de 2 de outubro, seguem sonegando informações aos eleitores, especialmente as financeiras.
A minirreforma foi instituída com o propósito de endurecer as regras eleitorais, sobretudo as relativas ao fim do financiamento privado de campanha e à entrada e saída de dinheiro dos caixas dos candidatos. Esse seria o caminho para moralizar as campanhas, cada vez mais milionárias a cada eleição. Mas, na prática, partidos e candidatos encontraram um “jeitinho” para driblar a legislação mais rígida.
Levantamento divulgado esta semana pelo TSE apontou que apenas 20% dos candidatos a prefeito, vice e vereador de todo o País seguiram à risca a legislação eleitoral e entregaram a prestação parcial de contas nessa terça-feira (13), quando se encerrava o prazo. A parcial compreendia a contabilidade de campanha de 16 de agosto a 8 de setembro. Em números, isso significa que dos 496.818 candidatos, apenas 99.363 cumpriram a legislação.
No Espírito Santo não foi diferente. Seguindo a média nacional, dos 10.464 candidatos, apenas 2.092 estariam em dia com suas obrigações eleitorais. A transparência, o ausência dela, confirma os dados do levantamento.
Para todos os efeitos, a maioria dos candidatos está zerada, ou seja, eles podem alegar que não prestaram contas de nada porque não receberam nem gastaram nada. Pelo menos é o que mostra a página do TSE de Divulgação de candidaturas e Contas eleitorais.
Curioso é que as movimentações de campanha estão em contradição com a contabilidade. É inviável citar todos os casos porque são muitos, além disso, seria injusto pinçar o balancete de um ou outro candidato para usar como exemplo. Mas o eleitor mais curioso pode acessar as contas dos candidatos da sua cidade e conferir com seus próprios olhos que os números (zerados) não batem com as movimentações de campanha. Mesmo os candidatos que tiraram as receitas do zero, parecem que só estavam interessados mesmo em fazer uma “encenação” ao TSE para não dar muito na cara.
Por exemplo, há candidato a prefeito de município de mais de 100 mil habitantes, de partidos grandes, cercado de numerosas alianças, que jura não ter desembolsado um centavo sequer na campanha. Ou aqueles que disfarçam ao dizer que gastaram até agora, a 15 dias da eleição, R$ 5 ou 10 mil, em campanhas que têm limite de gastos acima da casa dos R$ 320 mil.
Não bastasse a falta de transparência nos gastos de campanha, outro ponto que chama a atenção e o inventário de patrimônio apresentado pelos candidatos. Escorados pela lei, eles atribuem a seus imóveis o valor de compra de anos atrás. É fácil encontrar apartamentos de luxo em bairros nobres de Vitória ou Vila Velha, por exemplo, mais baratos que uma unidade popular do Minha Casa, Minha Vida; ou áreas rurais (grandes fazendas) em municípios valorizados do interior a preço de banana. A desvalorização proposital encolhe o verdadeiro patrimônio do candidato, além de lhe conferir uma imagem “franciscana”. Tudo isso para fugir da escrita de que patrimônios milionários despertam no eleitor à ideia de candidato corrupto.
Para reforçar a imagem “fransciscana”, alguns candidatos cometem o despautério de registrar que estão empobrecendo com a política. Pelo menos os inventários, eleição a eleição, mostram que seus patrimônios estão em queda livre. São tão “honestos” que acabam perdendo dinheiro com a política. Mas mesmo assim, não se sabe por que cargas d'água, insistem em disputar mais uma eleição.