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Educação e fracassomania

Na educação, como se sabe, o Brasil avançou na quantidade mas ainda deixa muito a desejar na qualidade. Na educação primária, o Brasil cumpriu a meta de universalizar o acesso à educação primária ( 1a. ao 5o. ano do ensino fundamental). No ensino médio, o Brasil caminhou menos, tanto na quantidade quanto na qualidade. De 2004 a 2014, o percentual de adolescentes de 15 a 17 anos matriculados no ensino médio aumentou de 47,5% para 59,5%, mas cerca de 1,7 milhões de adolescentes de 15 a 17 anos (16,3% dessa faixa etária ) ainda estão fora da escola (dados de 2011 da Pnad). No ensino superior, o número de matrículas dobrou em dez anos, mas se a taxa de crescimento continuar no ritmo de 2012 (4,4%) , o percentual de jovens no ensino superior só vai alcançar a média da OCDE (34%) em 2022. A qualidade melhorou, mas ainda deixa muito a desejar, comparativamente.
 
Agora, duas iniciativas, uma no plano nacional e outra em alguns estados da federação, podem ser referências positivas para a disseminação nacional de melhoria da qualidade na educação. No Brasil, trata-se do programa federal denominado “Pátria educadora”. No Espírito Santo, trata-se do projeto denominado “Escola Viva”, que adota metodologia desenvolvida e implantada com sucesso também em São Paulo, por exemplo. ( Aliás, São Paulo e Minas Gerais já adotam há alguns anos metodologia avançada de monitoramento da qualidade na educação desenvolvida pelos professores capixabas Lauro Prates e Mário Herkenhoff em cooperação com professores da UFMG ).
 
O “Pátria educadora” tem sido capitaneado pelos professores – que estão ministros – Renato Janine Ribeiro e Roberto Mangabeira Unger. O seu eixo é transformar a maneira de ensinar e aprender e sair do chamado “enciclopedismo raro e informativo”, com visão nacional e federativa da educação. Ele cria o Sistema Nacional de Educação (SNE), que vai ser inserido na LDB, para rearticular com novo enfoque e nova lógica e coerência a educação no país.
 
Se conseguir superar questiúnculas da pequena política e promover o diálogo federativo produtivo e propositivo, o “Pátria educadora” promete ser um bom novo recomeço para restaurar a educação brasileira e adequá-la à sociedade do conhecimento. Ele tem quatro eixos, como se sabe: cooperação federativa; reorientação curricular; qualificação de professores ; e tecnologia da informação. O objetivo final é a qualidade, através da descentralização qualificada da oferta de educação no país. Vamos torcer para que ataques de fracassomania não impeçam este caminho de restauração e refundação. A educação precisa de entregas.
 
O “Escola Viva” foi promessa de campanha do governador Paulo Hartung. Adota modelo desenvolvido nos últimos 12 anos pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), que é parceiro no projeto. Opera, também, na direção da transformação da maneira de ensinar e aprender e adota a concepção da educação em tempo integral. Já iniciou um projeto-piloto numa unidade-piloto, com aproximadamente 450 alunos matriculados. Pretende atingir, até 2018, um total de 25 mil alunos, que correspondem a 25% dos estudantes hoje matriculados na rede estadual. É outra iniciativa na direção da qualidade na educação. Aqui, também, vamos torcer para que ataques regionais de fracassomania não venham impedir a expansão do projeto-piloto e a adequação contínua da metodologia à realidade regional. Com o projeto-piloto, a entrega já começou. A sociedade quer entregas.
 
Particularmente no ensino médio, os indicadores de qualidade da educação no Brasil são ainda alarmantes. O Brasil ocupa a 60a. posição no ranking mundial de qualidade de educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre 76 países avaliados. O ranking for definido a partir de resultados de testes de matemática e ciências aplicadas. Um dos testes, o Pisa, avalia conhecimentos de leitura, matemática e ciências dos adolescentes.Avalia conhecimentos e habilidades que capacitam os alunos para uma participação efetiva na sociedade: compreensão , reflexão , capacidade para expressar ideias. São alunos na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória, capacitando os jovens para atender suas necessidades no mundo – por exemplo, expressar ideias e resolver problemas.
 
Escrevendo para a revista Veja ( “Pior ensino médio do mundo?” , 03/05/2015 ), Cláudio Moura Castro afirma que o ensino médio do Brasil é o pior de todos que avaliou. São várias as razões. Para começar, dos que iniciam o curso, só 40% o terminam. Castro enumera inúmeros problemas: imposição do mesmo currículo a todos; excesso de disciplinas; enciclopedismo e superficialidade; escassez de professores bem formados nas disciplinas mais críticas, como matemática e física; tempo curto para ensinar e aprender; indisciplina sistêmica; falta de diversificação do ensino médio, engessado pelo Enem. Para ele, falta ousadia para mudar: “a ação de forças descoordenadas criou um monstro, e não sabemos como descriá-lo“. Poderão referências como o “Pátria educadora” e o “Escola Viva” ajudar a superar estes obstáculos ?
 
No ensino superior, poucas são as universidades brasileiras que estão nos rankings das 100 melhores do mundo. Lista-se apenas oito instituições: USP, Unicamp, UFRJ, Unesp, UFRGS, UFMG, Unifesp e PUC-SP. No total, 58 cursos dessas oito instituições brasileiras ficaram entre as 100 melhores do mundo em suas áreas. O QS ( Quacquarelli Symonds) , que construiu o ranking, apontou crescimento da competitividade internacional do Brasil, mas mesmo assim o Brasil ainda está muito distante do topo e da média do ranking. No topo, estão principalmente instituições americanas e britânicas.
 
O Brasil não possui ainda um sistema de educação superior de qualidade, integrado e diversificado, comparativamente. Mas o crescimento dos programas técnicos/vocacionais públicos e privados – que focam no treinamento para o mercado de trabalho em áreas que não são oferecidas por instituições acadêmicas tradicionais, através por exemplo dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs) -, representam uma tendência positiva de diversificação. Outra tendência positiva é o crescimento do ensino a distância: de 5 mil matrículas em 2001 para 1.114.850 em 2012, correspondendo a 15,8% do total de matrículas no ensino superior.
 
Todas as evidências apontam para o crescimento contínuo da demanda por ensino superior no país. Mas não basta atender a demanda por quantidade. O maior desafio é melhorar a qualidade e oferta em todas as instituições – faculdades, centros universitários, universidades – , o que envolve um novo olhar e um novo enfoque para a educação superior, em pleno século 21, da sociedade do conhecimento, da informação e da inovação.
 
É preciso internacionalizar mais a educação superior, na linha do “ciência sem fronteiras”, promovendo a importação de cérebros e ampliando e aprofundando intercâmbios internacionais. É preciso aumentar continuamente os programas de educação à distância, com ações federais , mas também ações estaduais. É preciso aprofundar a transversalidade e a flexibilidade na oferta do conhecimento e criar novas ofertas de novas carreiras e ofícios. Ter coragem e ousadia para aprofundar uma nova reforma do ensino superior. Quebrar paradigmas. Mudar de patamar na formação de professores, na valorização de professores, no estímulo ao prestígio social dos professores. 
 
Quando o inferno astral da atual crise de conjuntura e de Estado no Brasil começar a ganhar caminhos de superação histórica, será pela via da educação que a sociedade brasileira poderá olhar para as trilhas da restauração e da refundação do futuro , na direção dos caminhos do desenvolvimento. Ou realmente ficaremos velhos e pobres antes de alcançar o desenvolvimento e a sociedade do conhecimento ?
 
Enquanto isto, vale repetir, vamos torcer pelo “Pátria educadora ” e pelo “Escola Viva”. Dizendo n?o à fracassomania.

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