Nunca soube que marimbondos, esses horríveis insetos mordedores possam ser tema de qualquer trabalho de ficção. A não ser, claro, que façam um filme onde os desmandos ecológicos da humanidade provoquem uma super-população de vespas geneticamente modificadas, que atacariam alguma cidade praieira da moda, bem no pico do verão. Enfim, são comedores de insetos, portanto, temos que respeitá-los.
Mas ganharam até um ditado, Não mexa em casa de marimbondos… Se não quiser se meter em encrencas. Vendo uma, passe longe, pois onde se instalam são os senhores da área. Já vi belas mangueiras carregadas de mangas que ninguém ousava tirar. Por que não? Porque os marimbondos moravam num dos galhos. Mas nem todos os odeiam – no México os comem com casa e tudo, e garantem os apreciadores, são deliciosos. Tradicional cozinha exótica.
Pior que marimbondo, porém, são as famigeradas funções do que – De quê? Do que está falando? pergunta um; O que são funções? quer outro saber; Que tragédia! replica a outra. Pois que existem, existem, que as gramáticas não me deixam mentir. Nos países de língua portuguesa existem estranhos seres que não apenas conhecem todas, mas que as aplicam no linguajar diário. Houve até um sábio monge que a elas dedicou toda sua vida.
O monge de que vos falo estava no leito em que ia morrer, e seus discípulos, que muito choravam, perguntaram que última lição lhes daria antes que partisse para o além. O que disse ele? “Vivi mais que os outros homens, de pobre fiquei rico e de rico fiquei pobre porque doei tudo que possuía aos necessitados. Em toda minha vida, porém, não consegui usar todas as 270 funções da palavra que. Por mais que tentasse…” Suspirou e morreu.
Que ideia interessante! diz um dos seguidores; Tem um quê de sinistro… diz outro. O que vamos fazer? pergunta mais outro; Vamos prosseguir na missão do mestre e procurar um sentido para as funções quesianas, diz o que mais chora; Nem sabia que existiam tantas, replica ainda outro; Um quê a mais ou a menos… ironiza outro. Melhor não mexer em casa de marimbondos, diz o que ficou por último.
Mesmo que tristes, melhor irmos cuidar do pão de cada dia, sugere o mais prático dos seguidores, que com a morte do mestre perderam eles a Bolsa Família. O que não vai ser fácil, replica um; O quê? indaga outro; Achar trabalho, responde um terceiro; Quê que é isso? perguntam os outros em uníssono espanto. Trabalho? Que palavra feia essa! exclama o que nada tinha dito até aqui; Será que precisamos? indaga o mais preguiçoso; Melhor não mexer em casa de marimbondos, garante o mais cauteloso; Que tolos somos! dizem todos.
P.S. Alguns erros de informação ou gramaticais não são propositais: a gramática tem prazer em me confundir. Quando os mestres do passado se reuniram para criar a língua portuguesa, exageraram no vinho e multiplicaram as funções do que. Que quê? pergunta um leitor distraído; O que sabe você sobre os que vieram primeiro? pergunta um leitor mais antenado; Quantos quês que essa história tem? pergunta a mais curiosa; Teremos que contar… sugere a mais exigente.