Há cerca de três anos, o governo federal vem distribuindo scanners corporais para os Estados usarem nas unidades prisionais. O body scan, que funciona como um raio-X, também foi instalado em alguns aeroportos brasileiros. A máquina já é usada nos aeroportos norte-americanos e europeus há alguns anos, por ser considerada uma eficiente ferramenta contra o terrorismo.
Inicialmente, os aparelhos foram instalados em duas unidades prisionais capixabas: Penitenciária Estadual de Vila Velha I (PEVV I) e no Centro de Detenção Provisória II de Viana (CDPV II). Logo que as máquinas entraram em operação, no primeiro semestre deste ano, funcionários e usuários comemoraram o avanço, já que o body scan evitaria a constrangedora revista íntima.
No lugar de se despir na frente de agentes penitenciários estranhos, ficar de cócoras, dar pulinhos e outras tantas acrobacias constrangedoras e bizarras, os familiares precisariam apenas se expor a um aparelho por alguns segundos e pronto. Tudo muito rápido, seguro e sem constrangimentos.
Mas o que parecia pôr fim ao périplo das revistas se tornou um preocupante problema de saúde para servidores, familiares e presos — grupos que mais se expõem ao scanner corporal.
Tão logo os aparelhos passaram a funcionar, o Conselho Regional de Técnicos em Radiologia do Espírito Santo, ainda em junho deste ano, alertou que os scanners emitiam uma perigosa radiação ionizante para os seres humanos.
Após vistoriar os equipamentos, o Conselho pediu a imediata suspensão do seu uso. A instituição alertou ainda que o aparelho deveria ser operado por técnico especializado em radiologia, e não por agentes leigos, o que poderia pôr em risco a vida do próprio operador e das pessoas submetidas ao scanner. O Conselho também advertiu sobre os riscos que as mulheres grávidas expostas ao aparelho estavam correndo: aborto e má formação do feto estavam entre as consequências.
Num primeiro momento, a Secretaria de Justiça considerou as ponderações do Conselho de Radiologia e suspendeu o uso dos scanners corporais. Mas logo depois, a Sejus voltou a utilizá-los. A diretoria da unidade de Vila Velha, inclusive, emitiu ordem de serviço estabelecendo que “todo preso antes de sair para escolta e chegar de transferência deverá ser conduzido imediatamente ao body scan”. Além disso, a ordem de serviço também estabelece que “toda gestante ou menor que vier visitar seus familiares, deverá passar pelo body scan”.
Preocupa neste caso que o risco à saúde é real. Não fosse, a União Européia não teria proibido a instalação de novas máquinas nos aeroportos até que as autoridades de saúde garantam que o body scan não é cancerígeno.
Uma pesquisa estima que até 100 passageiros das companhias aéreas dos Estados Unidos, no período de um ano, estão sujeitos a ter câncer causado pelos scanners. O governo americano ignora os dados é prefere manter com rigor a política anti-terror.
Um aprofundado estudo da Universidade de Columbia (EUA), coordenado pelo médico David Brenner, adverte que as crianças e pessoas com mutações genéticas, cujos corpos são menos capazes de reparar danos causados ao seu DNA, estão mais vulneráveis aos efeitos do body scan.
As pesquisas de Brenner mostram que os scanners contribuem para um aumento de câncer da pele chamado de carcinoma basocelular, que afeta principalmente a cabeça e pescoço.
Seria prudente que a Sejus considerasse todas essas informações antes de continuar operando indiscriminadamente as máquinas. Os males causados pela exposição à radiação ionizante são muitas vezes demorados e silenciosos, mas não menos ameaçadores.