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Esquerda equilibra gangorra com a direita

Depois que Donald Trump foi eleito presidente da nação mais poderosa do planeta, muitos observadores defenderam a tese de que a direita estava em franca ascensão mundo afora. Por aqui, em meio a um processo de impeachment, as pessoas foram para as ruas pedir a saída de Dilma e do PT. Cresceu o ódio ao PT. Tudo que deu errado no Brasil passou a ser atribuído às ideias da esquerda. Nos protestos públicos, em alguns momentos, a guinada era tão radical para o lado oposto, que já havia gente pedindo a volta do regime militar. 
 
Na esteira da tendência direitista, figuras como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-Rio) ganharam espaço e conquistaram seguidores. Alguns políticos animados com a nova tendência passaram a adotar um perfil mais conservador e se alinharam a ideias mais à direita. Fazendo uma comparação rasa, a esquerda passou a representar a “bagunça generalizada que tomou conta do país, enquanto a direita era o caminho para pôr “ordem” na casa e trazer de volta “progresso. 
 
A derrocada do governo Temer e de um monte de figurões conhecidos da cena política brasileira combinada ao insucesso da promessa de retomada da economia desconstruíram a tese de que o “inimigo” a ser derrotado era esquerda. O desdobramento da Lava Jato mostrou (ou ainda está mostrando) à sociedade que o selo da corrupção não era partidário ou tampouco estava restrito a uma corrente ideológica de esquerda. 
 
Isso tudo talvez ajude a explicar a pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira (3) no jornal Folha de S. Paulo que aponta crescimento no apoio da população a ideias identificadas com a esquerda. Segundo a pesquisa, essa migração do perfil ideológico novamente para a esquerda voltou a equilibrar o jogo entre as duas correntes, que andava pendendo para a direita de 2014 para cá.
 
O acirramento da crise econômica, com certeza, pode ter feito contrapeso nessa gangorra entre direita e esquerda. Em comparação ao levantamento feito em 2014 pelo Datafolha, subiu de 58% para 77% a parcela da população que acredita que a “pobreza está relacionada à falta de oportunidades iguais para todos”. De outro lado, os que acham que a “pobreza é explicada pela preguiça de trabalhar” caiu de 37% para 21%. 
 
Outros aspectos constatados pela pesquisa confirmam o crescimento das ideias mais à esquerda. Por exemplo, maior tolerância com o homossexualismo (subiu de 64% para 74%); maior aceitação de migrantes pobres (subiu 63% para 70%); rejeição à pena de morte (52% para 55%). 
 
Já o direito do cidadão de portar arma de fogo, que representava 35% em 2014 saltou para 43%. A posição contrária à legalização do uso de arma também caiu, mas ainda é maioria – de 62% para 55%. Talvez esse dado tenha mais a ver com a insegurança da sociedade do que propriamente uma linha ideológica mais à esquerda ou à direita.
 
De acordo com a pesquisa, a soma da direita e do centro-direita chega a 40% da população (era 45% em 2014); a somatória de esquerda e centro-esquerda aumentou de 35% para 41%, equilibrando novamente a balança. O centro, segundo o Datafolha, manteve-se com 20%.
 
Os eixos que vão nortear os debates eleitorais de 2018 passarão obrigatoriamente pelas questões levantadas pelos 2.771 entrevistados entre os dias 21 e 23 de junho. Os posicionamentos ideológicos dos candidatos devem ser considerados pelo eleitor na hora de teclar os números na urna eletrônica.
 
Os candidatos identificados com as ideias mais à esquerda ou mais à direita, que voltam dividir o eleitorado novamente, dependendo de suas convicções, poderão repelir ou atrair votos. Resta saber como eles irão interpretar as tendências do eleitorado nessa gangorra ideológica.

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