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Falsificações on line

Todos concordam que a economia anda de lado e a política está no auge da degradação, mas não se pode esquecer o papel relevante da mídia brasileira na alimentação da crise cívica vivida pelo Brasil, 30 anos depois da redemocratização.
 
A mídia é uma instituição abstrata cujo endereço se encontra no éter. É um sistema operacional difuso que emite e/ou reproduz mensagens e notícias continuamente, para alimentar o desejo de novidade das pessoas e o interesse comercial de 1001 empreendedores (econômicos, políticos, religiosos).
 
Não há imagem mais rica da mídia do que a parafernália de flashes, fios e microfones que se veem diante de alguma autoridade em momentos cruciais. Daquele bolo de aparelhos brota o material borbulhante que irriga e inunda todos os meios de comunicação social: jornais, rádios, revistas, emissoras de TV, sites institucionais ou pessoais.
 
Para o mal e para o bem, a mídia reproduz não só os conflitos de ideias, mas as competições de mercado e os grandes entreveros civilizatórios, incluindo a famosa luta de classes que alguns, na parte de cima da pirâmide das rendas, argumentam que não existe ou “não faz mais sentido”. É justamente a partir dessas simplificações grosseiras que cabe discutir o papel da mídia nas sociedades modernas.
 
Salvo honrosas exceções (cooperativas, sindicatos, igrejas), a maior parte da mídia pertence a empresários poderosos ou a conglomerados gigantescos, caso da Globo, com sede no Rio de Janeiro e tentáculos em todo o Brasil.    
 
A maioria dos brasileiros não tem consciência do poder tentacular da mídia, mas uma minoria de ativistas passou a chamá-la recentemente de Partido da Imprensa Golpista (PIG), por sua adesão majoritária a práticas antidemocráticas.
 
Por isso predomina no senso civil a convicção de que os meios de comunicação não podem continuar desfrutando de carta branca para manipular impunemente o noticiário.  
 
Antigamente, a opinião dos jornais era imprensa nos editoriais. Também tinham direito de expressar opiniões os articulistas convidados e os colunistas fixos. E só.
Todo o resto do material jornalístico era servido em forma de notícia com a imparcialidade possível e a isenção desejável. O leitor era respeitado e o interesse público se preservava.
 
 Ainda que os direitos individuais devam ser preservados, o bem maior da democracia é o interesse público. Por isso se defende a criação de alguma forma de controle social sobre a mídia. Não sobre a liberdade de expressão, mas sobre o uso político do poder empresarial. 
 
Do jeito que as coisas passaram a ser feitas, com o jornalismo subordinado aos interesses empresariais e políticos, a mídia entrega-se a práticas levianas e nocivas.      
A liberdade de imprensa é um direito muito sério para ficar na mão dos empresários da comunicação.
 
Para reproduzir seu capital, os empresários abusam do direito à livre expressão, no que vilipendiam os trabalhadores que os servem. Os donos dos veículos, contando com a aliança de agências de publicidade e marqueteiros de grandes empresas, constituem uma espécie de máfia que, em nome da liberdade de imprensa, conspira contra a democracia.
 
É natural que a mídia sirva à plutocracia, pois seus donos fazem parte dela. O Judiciário lhe dá cancha, ao revelar-se mais propício a absolver os ricos do que a proteger os pobres. O próprio Executivo, por seus ministérios e companhias públicas, favorece a mídia plutocrática com verbas milionárias e campanhas contínuas.  
Para a maioria dos trabalhadores, cumprir ordens significa garantir o emprego. Nos meios de comunicação, um jornalista não tem o direito de exercer a liberdade de expressão se não for em benefício da empresa que lhe paga o salário. Se não obedecer à orientação patronal, o pessoal da redação se coloca automaticamente na marca do pênalti.
 
Uma parcela muito pequena dos leitores sabe o quanto o ofício do jornalista (repórter, redator, editor, fotógrafo, ilustrador, diagramador, webdesigner etc) é exercido precariamente. É como andar numa corda bamba. Todos são igualmente pressionados, mas quem mais sofre são os editores (gerentes de seções jornalísticas), obrigados a manter contato direto com a direção da empresa midiática.
 
A pressão não vem somente do empresário-patrão, mas de departamentos sem empatia com a liberdade de expressão, principalmente o departamento comercial, que atua para carrear recursos financeiros para a empresa.
 
Antigamente, o comercial mantinha distância do jornalismo e este daquele. Mais adiante, desenvolveu-se a tese de que a redação só gera custos, contribuindo, portanto, para onerar o caixa da empresa, ao contrário do comercial, que faz de tudo para faturar & faturar. Hoje em dia, já transformado em departamento de marketing ou desdobrando-se em “diretoria de relações institucionais”, o novo comercial diz com desdém: “À redação cabe ajudar, não atrapalhar, na realização dos negócios da Casa”.
 
Muitos leitores aprenderam a captar nas manchetes, nas matérias, nas legendas das fotos, nos editoriais e até nas entrelinhas as intenções golpistas, antidemocráticas ou simplesmente comerciais da mídia. São práticas cada vez mais escancaradas. No entanto, quando se fala em controle da mídia, no sentido econômico, para evitar que se formem monopólios, oligopólios e cartéis nos setores de rádio, TV, jornais e revistas , logo vêm os malandros argumentando que se quer cercear a liberdade de imprensa ou tolher o direito de expressão. Trata-se de uma manipulação capciosa para inibir os governantes e intimidar os cidadãos. O controle da mídia, no aspecto econômico e político (e religioso também), precisa ser colocado na agenda das reformas indispensáveis ao aperfeiçoamento da democracia entre nós.  
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Os jornalistas são comunistas pagos para preencher com notícias os espaços não comercializados da imprensa”
Herbert Levy, empresário e senador paulista, citado por seu filho Luiz Fernando Levy, sócio-proprietário do diário Gazeta Mercantil, que circulou de 1920 a 2005

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