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Faltou cautela à Justiça

Apesar das graves denúncias envolvendo a atual diretoria, o processo eleitoral que irá definir a chapa que irá dirigir o Sindicato dos Comerciários (Sindicomerciários-ES) está confirmado para o próximo dia 20. As denúncias motivaram o Ministério Público do Trabalho (MPT) a se manifestar pela suspensão do processo eleitoral. Mas a Justiça não entendeu assim, e a eleição está mantida.
 
Na última sexta-feira (9), o Grupo Especial de Atuação Finalística do MPT apontou que há fortes indícios de irregularidades envolvendo a atual gestão, que estaria dificultando a participação de chapas de oposição no processo eleitoral. Foram levantadas também pelos procuradores suspeita de fraudes no registro de filiados e de beneficiamento dos familiares de diretores na venda dos produtos aos associados nas convenções coletivas.
 
Na ocasião dos registros das chapas, Luiz Antônio da Silva, que encabeça a chapa de oposição à atual diretoria, denunciou as irregularidades à Justiça do Trabalho. O MPT passou a investigá-las. Após ouvir os envolvidos e averiguar documentos, os procuradores pediram a intervenção da Justiça, suspensão e nulidade dos atos praticados no processo eleitoral, além da nomeação de um perito da Justiça para intervir no processo eleitoral. 
 
Nas 42 páginas da manifestação do MPT, que sustentam os pedidos dos procuradores, a impressão é que sobram elementos para, no mínimo suspender o pleito. Parece ter faltado cautela por parte da Justiça ao decidir dar andamento à eleição mesmo com tantas evidências de irregularidades.
 
Está em jogo o comando de um dos sindicatos mais importante do Espírito Santo, o maior em número de filiados e, consequentemente, com uma arrecadação vultosa. A atual gestão, alvo denúncia, dirige o Sindicomerciários há nada mais nada menos que 23 anos. 
 
O modus operandi usado pelo Sindicomerciários para se manter por um período tão longo no poder se repete em outros sindicatos. Um mesmo grupo se fecha e passa a se revezar na direção da entidade. As irregularidades apontadas pelo MPT costumam ser recorrente em entidades sindicais com esse perfil, sobretudo quando se aproxima um processo eleitoral e a manutenção do grupo fica ameaçada. 
 
Não por acaso, o autor da denúncia fez parte da diretoria do sindicato no início dos anos 2000. Mas por alguma divergência com o grupo – talvez por não concordar ou não ter sido contemplado num desses revezamentos -, Luiz Antônio da Silva deixou a entidade e agora retorna para compor a chapa de oposição que pretende quebrar uma hegemonia do grupo que comanda a entidade sindical por mais de duas décadas.  
 
Para tornar esse jogo de interesses ainda mais complexo, a disputa pelo controle do Sindicomerciários se embaraça na briga entre correntes internas do Partido dos Trabalhadores. A atual diretoria estaria ligada ao presidente estadual do partido, João Coser, e ao deputado estadual Nunes. Já o grupo de oposição teria o apoio do deputado federal Givaldo Vieira. 
 
A disputa pelo comando do sindicato recria o clima de rivalidade que dominou recentemente a eleição do PT capixaba. Aliás, como no caso sindicato, cujo desdobramento do processo eleitoral terá seu desfecho na Justiça, na disputa pelo comando do PT também houve denúncia de fraude no processo eleitoral. A chapa derrotada de Givaldo aguardar um parecer da Comissão Nacional de Ética do PT que irá decidir se impugna a eleição que reconduziu João Coser à presidência do partido.
 
O aspectos da disputa político-sindical somados às denúncias apontadas pelo Ministério Público do Trabalho seriam elementos mais do que suficientes para suspender o processo eleitoral do Sindicomerciários. Mas a Justiça teve outro entendimento. 

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