Quem não conhece ou já se esqueceu do retrospecto dos dois primeiros governos de Paulo Hartung na área de segurança pode se deixar enganar pela mais nova campanha do governo que convoca a população a “compartilhar o bem”.
A campanha é de uma desfaçatez sem precedentes. Cinicamente, a peça publicitária passa a mensagem que “bons exemplos acontecem o tempo todo em todos os lugares. E quando esses bons exemplos se somam às ações do governo em segurança. O resultado é a menor taxa de homicídios dos últimos 23 anos”.
Faltou a campanha informar o dado estatístico que revela que esse discurso não corresponde à realidade. Entre 2003 e 2010 (nos dois mandatos anteriores de Hartung), mais de 14 mil pessoas foram assassinadas no Espírito Santo. O número estrondoso manteve o Estado entre os mais violentos do País, com taxas de homicídios superiores às de países em conflito armado.
Imaginem como se sentem ao assistirem à campanha os familiares dessas 14 mil pessoas que perderam suas vidas por incompetência do Estado. Sem falar dos outros milhares que não aparecem nas estatísticas de mortes, mas que ficaram com sequelas físicas e psicológicas em decorrência da violência.
Deve ser revoltante para os sobreviventes ver agora o mesmo governador se promovendo em cima dessas milhares de vítimas.
E não faltam atores “voluntários” para encenar essa farsa. Desde que a campanha começou, no início da semana passada, os deputados governistas têm se revesado na tribuna da Assembleia para rasgar elogios à iniciativa do governo.
A empolgação dos parlamentares que se prestam ao papel de “garotos e garotas propaganda” revela o desrespeito às vítimas desse governo, que foi seguramente o mais negligentes com as políticas públicas de segurança, simplesmente porque nada fez de investimentos. Não criou um único programa de enfrentamento à violência e deixou as polícias definharem. Jogou a moribunda polícia nas costas do sucessor Renato Casagrande (PSB), que foi obrigado a investir pesado na segurança para tirá-la da UTI, restabelecendo os efetivos e criando um programa, o Estado Presente. Longe de ser o programa ideal, mas pelo menos se preocupou em criar algo para orientar as políticas de segurança.
O governador Paulo Hartung e seus bajuladores ignoram a história recente de sangue que lavou esse Estado. Os entusiastas da campanha estão ajudando Paulo Hartung a apagar uma das marcas mais sombrias do seu governo.
Causa perplexidade a facilidade com que o governo consegue torcer os fatos. Ele que assistiu de camarote o Estado quebrar ano a ano os recordes de homicídios, precisou apenas abrir o cofre para ser absolvido dos 14 mil homicídios registrados nos seus dois governos.
Para dar a volta por cima, Hartung contou ainda com a mídia corporativa, que se encarregou de fazer um pacote de matérias mostrando o retrospecto positivo do governo na área de segurança. Em seguida, os grupos de comunicação seriam irrigados com uma farta verba de publicidade para veiculação da campanha.
Nessas horas é bom ser independente para poder dizer com todos as letras que não fazemos parte dessa farsa repugnante.