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Fera ferida

Embora parecesse inevitável a saída de Theodorico Ferraço (DEM) do processo eleitoral para a Mesa Diretora da Assembleia surpreendeu  parte dos meios políticos. Até o anúncio de sua retirada do processo, esperava-se que uma movimentação de última hora fosse acomodar a velha raposa em um espaço confortável. Ele mesmo parecia acreditar nisso, mas quem podia fazer alguma coisa, o governador Paulo Hartung (PMDB), não moveu uma palha.

É verdade que o governador mesmo não pediu em nenhum momento para que os deputados estaduais tirassem Ferraço da presidência, mas também não teve nenhuma interferência para que isso não acontecesse. A derrocada de Ferraço aconteceu, segundo alguns de seus aliados, por causa de sua insaciável fome de espaço político. Com sua digital em todos os níveis do Parlamento – o filho, Ricardo Ferraço (PSDB) no Senado, a mulher Norma Ayub (DEM), na Câmara dos Deputados, e ele próprio na Assembleia Legisaltiva – seria muito poder nas mãos de um ator político só.

O episódio da comunicação ao governador sobre sua não-candidatura ao quarto mandato de presidente da Assembleia dividiu opiniões. Para parte do mercado político, Ferraço reconhece, no fundo, no fundo, que já não tem a mesma força de outrora e vai se curvar, no plenário, aos desígnios do Palácio, como a maioria esmagadora de seus colegas no Legislativo.

Para outra parte, Ferraço já dá sinais de que vai cair atirando. Esse recuo seria meramente estratégico para, em breve, armar um contra-ataque violento ao Palácio. Resta saber com quais instrumentos. Afinal, o grande Ferração saiu derrotado da maioria das disputas municipais que apoiou em 2016, e seu capital político já não é mais o que era antes. Mas para os dois lados, não restou dúvida da mágoa incutida nas declarações apimentadas do deputado ao deixar o gabinete do governador e nas 24 horas que se seguiram ao anúncio de sua saída da corrida à presidência da Assembleia.

Há que se pesar nos passos futuros do deputado,  o interesse maior da família. Desde o início do processo ele se preocupa em não ser uma pedra no caminho do filho, que tem uma disputa à reeleição ao Senado no próximo ano e estamos falando da eleição que deve atrair todos os holofotes, já que Hartung hoje encontra-se envolvido em um nó que ele mesmo criou para seu futuro.

No jubileu de sua carreira política, Ferraço é uma fera ferida, acuado em um canto do plenário da Assembleia com os microfones à sua disposição e, provavelmente, muita munição a disparar. A dúvida em sua cabeça neste momento deve ser se deve descarregar seu arsenal. Para ele, vale a mensagem bíblica: “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém”.

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