Decididamente, ano eleitoral é tempo de milagre. Depois de três anos de secura, o governo no Estado anuncia investimentos na área de segurança, destacando os 182 fuzis de grande pode de fogo, coletes à prova de bala, drones e outros equipamentos para a Polícia Militar.
O Estado se arma para a guerra, visando reduzir os crescentes índices de violência e, desta forma, a criminalidade, e se coloca frente a frente com a bandidagem, agora em pé de igualdade com os modernos armamentos das quadrilhas. Só que, na realidade, não é assim que funciona.
Apesar das boas intenções, que não podem ser negadas, os investimentos promovidos pelo governo, se comparados com os níveis de desorganização social e as estratégias das quadrilhas de criminosos, são inócuos do ponto de vista operacional, considerando as urgentes necessidades da tropa.
A Polícia Militar do Espírito Santo possui 14 batalhões e 14 companhias independentes, totalizando 28 unidades. Em tese, cada uma delas terá quatro fuzis, ampliando sua capacidade de enfrentamento com os bandidos.
No entanto, o problema da criminalidade e da violência não se resolve, como pode parecer à primeira vista, na ampliação de equipamentos e artefatos de guerra. Existem fatores mais complexos relacionados a quem maneja esses armamentos, ou seja, a tropa.
Altamente desmotivada por conta do cenário sombrio que se formou depois da greve da categoria, em fevereiro de 2017, até hoje não deglutida pelo governo, a tropa ainda hoje luta para reduzir as punições decorrentes da paralisação.
A postura adotada pelo governo, entre elas a alteração da lei das promoções, gera elevado nível de tensão entre os policiais, com resultados negativos no desempenho de tarefas. Há ainda casos de distúrbios emocionais, inclusive depressão.
A tropa sente falta, também, de mecanismos não letais e da falta de baterias para possibilitar o funcionamento de aparelhos, bem como de gás lacrimogêneo. É como diz um policial: esqueceram de investir na tropa, no ser humano.
Essa afirmativa toca a sociedade como um todo, vítima da ausência de políticas públicas voltadas, de forma efetiva, para a segurança e que não se resume apenas à ampliação de armas e outros equipamentos, mas a programas sociais de forma a alcançar jovens nas periferias e, também, que coloquem fim à impunidade histórica de bandidos de maior nível socioeconômico.
Um Estado ineficiente e sem programas de políticas públicas de segurança, saúde e educação contribui para aumentar a sensação de injustiça e impunidade, o que constitui um das principais causas da violência.
Como o poder político se distribui de maneira desigual e na maioria das vezes acompanha o direcionamento do poder econômico, as instituições do Estado são imensamente desfavoráveis aos pobres, as maiores vítimas da crescente onda de violência.
Mais do que armas, o Estado necessita dar maior ênfase em programas sociais, pois sem investir nessa área, não há como reduzir a violência. Com essa postura, de forma isolada, se estará prestando grande contribuição para tornar o cenário ainda mais sombrio, sem a necessária justiça social.