O contexto que envolve a história do Plano Real inclui questões trabalhistas, fiscais, administrativas, políticas, jurídicas etc. Neste artigo vamos enfocar algumas mudanças sociais e alterações de comportamento do cidadão brasileiro consumidor, antes e depois da implantação efetiva do Plano Real.
Até a década de 1990, quando foi implantado o Plano Real, as idas ao supermercado eram mensais e representavam uma dura interrogação, pois com a inflação diária, não havia como estimar o valor da compra e muito menos saber se o dinheiro separado para aquela tarefa seria suficiente. Chegar ao supermercado com uma lista de compras, não significava que se voltaria para casa com tudo comprado.
Essas pequenas tarefas domésticas geravam insegurança, medo e um sentimento de impotência às famílias. A situação impunha, por exemplo, a necessidade de se formar estoque de alimentos, na tentativa de driblar a inflação e prover o necessário à família.
Com a estabilização da moeda, a ida mensal ao supermercado de antes é substituída pela recomendação de fracionar as compras, com ida semanal ao supermercado, para aproveitar a concorrência e as ofertas, obtendo preços menores, para evitar formar estoques e gerar desperdícios.
A troca da moeda, do Cruzeiro Real para o Real, causou uma euforia coletiva, provocada pela queda em três dígitos e pelo controle nos preços. Parecia que tudo estava uma “pechincha”! O que acabou influenciando para a mudança no comportamento e para o aumento no consumo.
Outras mudanças acompanharam a implantação do Plano Real, tais como: a ascensão social, a facilidade de acesso ao crédito, o estímulo ao consumo, incluindo a entrada da opção de compras pela internet.
A ascensão de classes sociais teve como um dos principais motivadores a formalização das relações de trabalho, quando grande parte dos contratos de trabalho passaram de informal para formal, influenciando para a melhoria no padrão de vida e possibilitando o acesso a bens e serviços.
Com a facilidade de acesso ao crédito, a opção por compras parceladas, seja nos carnês de lojas ou no cartão de crédito – a “perder de vista” – passou a ser e ainda é a mais escolhida. Lembrando aquelas que acabam tendo que ser devolvidas, pela falta do hábito de se avaliar previamente a real capacidade de endividamento.
Antes, para obter um cartão de crédito era mais difícil. Hoje, isso se popularizou, sendo atualmente difícil encontrarmos alguém sem, ou com apenas um cartão, seja ele de crédito/débito e/ou de lojas. O que também facilita o acesso ao crédito e ao consumo.
A televisão e a internet intensificaram o estímulo ao consumo. As compras hoje estão mais acessíveis, feitas a partir de um toque, seja no computador ou no telefone. Compras que nem sempre são planejadas, orçadas, pesquisadas e nem necessárias.
A moeda mudou e a estabilidade veio, o que devemos celebrar. Sem deixar de ressaltar que muitos passaram a consumir mais e demais. Outros ainda mantém o hábito de formarem estoques de alimentos, se “esbaldam” nas liquidações e nas compras on-line, desnecessariamente, enquanto suas contas bancárias e carteiras ficam “em baixa” e comprometidas.
Com vinte anos de idade a nossa moeda sofreu desvalorização. Hoje não conseguimos comprar com um real o mesmo que comprávamos quando a nova moeda entrou em vigor. A atual variação nos preços parece nos ameaçar, principalmente, àqueles que viveram a hiperinflação. Contra essa sensação de ameaça, nossa melhor arma é adotar um comportamento de consumo consciente, contendo os impulsos que levam ao consumo desnecessário e trabalhando pela e para a formação de reserva.
É importante e urgente a disseminação da educação financeira para todos, a fim de prevenirmos e tratarmos o endividamento excessivo, cuidando bem do dinheiro, porque “gato escaldado tem (e deve ter) medo de água fria”.
Ivana Medeiros Zon, Assistente Social, especialista em Saúde da Família e em Saúde Pública,Educadora Financeira, membro da ABEF – Associação Brasileira de Educação Financeira, palestrante, consultora, colunista do Portal EduFin www.edufin.com.br
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