domingo, janeiro 12, 2025
23.3 C
Vitória
domingo, janeiro 12, 2025
domingo, janeiro 12, 2025

Leia Também:

Guardião, o retorno

Enivaldo dos Anjos (PSD) fez uma denúncia estarrecedora durante a sessão ordinária desta terça-feira (26) da Assembleia Legislativa. Segundo ele, alguns deputados estariam sendo grampeados pelo sistema Guardião. 
 
Para quem não se recorda, o Guardião foi uma eficiente ferramenta lançada no início do primeiro mandato do governo Paulo Hartung para controlar a comunicação no Estado. Todas as informações eram registradas pelo Guardião e filtradas para o governador.
 
Uma “escorregada” da equipe de informantes de Hartung, porém, quase pôs tudo a perder. Depois da repercussão nacional do grampo a jornalistas da Rede Gazeta, a Assembleia Legislativa, em dezembro de 2005, decidiu criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. A CPI do Grampo, como ficou conhecida, sofreu forte pressão das entidades representativas de jornalistas e da sociedade civil organizada, que exigiam que a Assembleia passasse o escândalo das denúncias a limpo.
 
No início dos trabalhos, os membros da CPI garantiam que gerariam um relatório conclusivo sobre os fatos investigados. Contudo, no mês de dezembro de 2006, no apagar das luzes daquela legislatura, a CPI do Grampo foi encerrada sem a apresentação de seu relatório final. Os membros da comissão chegaram a distribuir convites para a apresentação do relatório, mas a sessão, marcada para o dia 5 de dezembro daquele ano, nunca ocorreu.
 
Na época, o vice-presidente da CPI, o ex-deputado Cabo Élson, chegou a insinuar que havia “a sombra do governo” rondando a Assembleia, para que o relatório final não fosse conhecido. Há suspeitas de que o material sigiloso, que não consta nas atas taquigráficas, tenha virado pó nos desvãos da Casa. Uma lista com números de telefones interceptados foi mostrada aos colegas pelo relator da comissão, Euclério Sampaio, que também se colocou como vítima das ameaças.
 
A breve sinopse sobre a CPI do Grampo é uma evidência de que a denúncia do deputado Enivaldo não pode ser tratada como paranoia.
 
Assim que Enivaldo soltou a bomba, a sensação de “déjà vu” deve ter batido nas cabeças dos deputados mais antigos, que conheceram bem de perto o Guardião. Gilsinho foi um dos que criticaram com veemência o possível grampo aos parlamentares. “No relatório final da CPI dos Grampos, em 2005, tinha os nomes dos responsáveis pelos grampos no Estado. Estamos incomodando grandes interesses econômicos, de policiais e outros. É preciso rigor nessa apuração, senão quando encerrarmos uma CPI vamos ter de abrir outra para investigar essa situação”. 
 
Marcelo Santos (PMDB), outro veterano, também ficou pasmo com a notícia. Ele sugeriu que os deputados enviem um ofício ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e à Secretaria de Segurança para esclarecer se há autorização judicial para grampear os deputados. 
 
Não é coincidência que o Guardião tenha despertado no retorno do governo Hartung. Não seria de se estranhar que o governador estivesse recorrendo ao expediente para se manter sempre um ou dois passos à frente dos seus adversários. 
 
A Assembleia tem de investigar essa denúncia até o fim, mesmo que para isso, como disse Gilsinho, tenha que ser aberta uma nova CPI do Grampo. 

Mais Lidas