quarta-feira, janeiro 15, 2025
22.7 C
Vitória
quarta-feira, janeiro 15, 2025
quarta-feira, janeiro 15, 2025

Leia Também:

Hartung blefou

Quem assistiu ao último debate (TV Gazeta, 30/09/2014) antes do pleito entre os candidatos ao governo do Espírito Santo, deve se lembrar que o então candidato Paulo Hartung (PMDB), se sentindo acuado diante das perguntas de Renato Casagrande (PSB) e Camila Valadão (PSOL), chegou a tremer na frente das câmeras. Não se sabe se de pânico, nervoso ou dos dois. Qual seria o motivo de tanto descontrole? Ficar frente a frente com a verdade.
 
Logo no primeiro bloco do debate, Camila fez a seguinte pergunta para Hartung: “Dizem que o senhor é o primeiro colocado nas pesquisas, mas pesam denúncias contra o senhor, como o posto fantasma, as viagens da sua esposa e a casa em Pedra Azul. O senhor não está constrangido em ser candidato?”
 
Desconcertado, o então candidato do PMDB respondeu, se é que se pode chamar as palavras vagas do candidato de resposta. “Primeiro o posto fiscal: o terreno pertence ao Estado. E se alguém quiser esconder uma casa, vai construí-la à luz do dia lá em Pedra Azul e vai declarar na declaração de bens do casal no imposto de renda? Isso vem de um site [Século Diário] do Espírito Santo que é financiado com dinheiro do cidadão capixaba. O governo do Estado compra notícias contra a minha pessoa. São coisas que não têm credibilidade. O cidadão quer que a gente discuta o Estado.”
 
Inconformada com a evasiva – marca de Hartung nos debates quando não queria ou não podia responder as perguntas -, Camila insistiu: “Estamos falando de recurso público usado para fins privados. Não declarou a casa porque não quis. Escondeu. Isso que o senhor fez é crime eleitoral. A população quer saber qual é o patrimônio do candidato. O senhor vai ter que responder na Justiça. O PSOL apresentou uma ação…”
 
Como num jogo de poker, olho no olho, Camila desceu as cartas na mesa e “intimou” Hartung a se explicar no momento em que afirmou que o partido entrara como uma ação na Justiça Eleitoral pedindo a apuração das denúncias sobre ocultação de bens, operações suspeitas da empresa de consultoria Éconos, entre outras acusações. 
 
Visivelmente irritado, sem ter como responder as acusações, Hartung desdenhou a ação. Disse que já havia dado uma “olhada” e que a ação estava equivocada do ponto de vista jurídico. Acrescentou ainda que a candidata do PSOL fora mal assessorada. Soltando, ao final da frase, um sorriso nervoso e irônico.
 
Como um jogador de poker que está em maus lençóis, Hartung recorreu à estratégia do blefe. Acuado pela adversária, sem nada na mão para confrontar com o jogo robusto de Camila, o candidato do PMDB passou a jogar com palavras vazias para fugir das perguntas. Primeiro descredenciou o jornal Século Diário, na condição de fonte das reportagens que deram origem à ação do partido, e em seguida passou a desqualificar o próprio PSOL e os autores da ação: Camila e o candidato a senador, André Moreira, também do PSOL.
 
A dinâmica do debate acabou favorecendo o blefe de Hartung, que deixou no ar para o telespectador a impressão de que tudo que a candidata do PSOL disse não passava de bravatas.
 
Nove dias após o debate, porém, o andamento do processo na Justiça comprova que Hartung estava blefando descaradamente ao dizer que a ação não tinha nem pé nem cabeça e se baseava em informações de “um site (Século Diário) sem credibilidade”. 
 
Nesta quinta-feira (9), o vice-presidente e corregedor do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), desembargador Sérgio Luiz Teixeira Gama, notificou o governador eleito para se explicar sobre as acusações de ocultação de bens e do suposto abuso do poder político e econômico no pleito deste ano. Hartung, que desdenhou a candidata do PSOL, agora tem cinco dias para apresentar resposta à ação de investigação eleitoral movida pelo partido. 
 
Perante à Justiça, desta vez sem direito a blefe, Hartung terá que explicar, entre outras pendengas, por que omitiu bens de seu patrimônio da declaração entregue ao Tribunal Regional Eleitoral. Outro desafio para o governador eleito será explicar as operações da consultoria Éconos. Na ação, o PSOL levantou a suspeição de tráfico de influência e arrecadação antecipada de recursos para campanha eleitoral. 
 
Durante a campanha Paulo Hartung nada explicou sobre as denúncias. Os eleitores capixabas, talvez até os que o elegeram, estão aguardando ansiosos as respostas. Como disse Camila Valadão, “A população quer saber qual é o patrimônio do candidato. O senhor vai ter que responder na Justiça”. Chegou a hora. 

Mais Lidas