As preocupações com o meio ambiente ecoam em todo o planeta. A proteção às florestas nativas, por exemplo, é bandeira de vários países, cientistas renomados, entidades de alta relevância e celebridades da cultura, como escritores e músicos.
O tema só não repercute em gabinetes palacianos, onde habita espécie absolutamente indiferente ao desmatamento e às suas consequências nefastas para o meio ambiente. Como o “homo hartungus”, uma variante do homo sapiens, que como se sabe, desde as primeiras lições escolares, fez desse planeta sua moradia, há alguns milhares de anos.
O “homo hartungus”, embora tenha aparecido sobre a Terra recentemente (sua origem data de 21 de abril de 1957, quando veio à luz, em Guaçuí, o primeiro exemplar da espécie), em nada se diferencia dos seus coirmãos, cuja evolução ocorreu desde 200 mil anos atrás. Do ponto de vista da formação genética, um e outro têm a mesma herança. O que o notabiliza, porém, é a dependência quase congênita dos grandes grupos econômicos que dominam o Espírito Santo.
Em boa hora, a Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado (TJES) negou provimento ao recurso da Suzano Papel e Celulose S/A e da Aracruz Celulose (Fibria), confirmando a proibição para novos plantios de eucalipto em Montanha, extremo norte do Estado. Um dos motivos: falhas no Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) apresentado pelas empresas e fragilidade ambiental da região, especialmente com relação à conservação dos recursos hídricos.
Há mais de 40 anos, a Fibria, que se instalou no Espírito Santo sob a razão social Aracruz Celulose, vem se dedicando a eliminar os últimos vestígios da Mata Atlântica com seus eucaliptais, que lhes servem de matéria-prima para exorbitantes lucros. A ela se juntaram em anos recentes outras poderosas empresas, com o mesmo propósito predador e rentável.
No entanto, o “homo hartungus” acredita que florestas naturais não importam. Como não importam também os riscos que eucaliptos representam para os recursos hídricos, dos quais a população é tão dependente.
O tema vem se judicializando há alguns anos. Mas tanto as empresas como o governo, por meio do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), se valem de manobras protelatórias para não respeitar a proibição, permitindo a expansão continuada das monoculturas, o que agrava os inúmeros problemas ambientais. Mesmo comportamento, lamentavelmente, tem o Conselho Regional de Meio Ambiente I (Conrema I).
Apesar das ações enumerarem os danos da monocultura ao Estado, as empresas continuam a receber verdadeiros presentes do Idaf: seguidas licenças para novos plantios, sem qualquer contestação.
Impraticável avaliar, a essa altura, a natureza desse íntimo vínculo entre o “homo hartungus” e a atividade predadora dessas grandes empresas e, mais do que isso, a omissão em relação aos alertas embasados nas ações judiciais. Aliás, como ocorre há anos, diante dos apelos e protestos da sociedade civil e comunidades impactadas.
Se depender do “homo hartungs”, não há dúvida: o meio ambiente no Espírito Santo continuará sob risco constante.