Sexta, 03 Mai 2024

Inversão de papéis

O parecer do Ministério Público, ou melhor, do procurador-geral de Justiça, Eder Pontes, sobre a Derrama não chegou a surpreender o mercado político, afinal, já circulava nos bastidores o encontro no Palácio Anchieta com a participação de Pontes, do conselheiro do Tribunal de Contas, Sérgio Aboudib e do próprio Ferração.



A situação é grave. O Ministério Público nos últimos anos tem agido como promotor, juiz e carrasco da classe política. Chegou ao ponto de em um determinado momento haver uma reunião entre a representação dos prefeitos, a Amunes e o Ministério Público para que houvesse um pouco mais de cuidado dos promotores e procuradores na hora de fazer denúncias contra os agentes municipais, afinal, primeiro se acusava o golpe e depois se buscava as provas.



No âmbito estadual, a fragmentação de ações serviu também de forma política para manter viva denúncias contra agentes políticos, todas as vezes em que o Executivo, o cabeça de um arranjo institucional vigente no Estado, sofria algum tipo de crítica.



Desta vez, o que se viu foi uma inversão total de papéis. Em vez de bater primeiro e depois perguntar, o Ministério Público aliviou. Procurou brechas para tentar desconstruir o arcabouço de provas e conexões, feitas pela Polícia Civil com base em informações do software do Tribunal de Contas que identificou as operações ilegais da CMS. Pontes enfrentou e colocou em questionamento o trabalho dos demais poderes. Legitimado pelo discurso do jornal A Gazeta, o procurador embarcou na história do viés político que teria contaminado o Nuroc, TCE, o Tribunal de Justiça e até os promotores que ofereceram a denúncia.



O Ministério Público parece ser o último nicho de resistência do antigo arranjo institucional. As mudanças nos demais poderes mostram uma nova forma de visão do Estado, mas desde a Operação Pixote, que deve ter sido esquecida em alguma gaveta da instituição, o Ministério, ou melhor, parte dele, já mostro qual a sua visão do novo cenário político do Estado, corrobora com a ideia de bater em "vereador e prefeitinho" e deixa de fora os grandes tubarões.



Ou as instituições da sociedade civil organizada tomam providências ou o Estado corre o risco de inaugurar uma nova era de personalismo político. Se de 2002 a 2010, Paulo Hartung comandou todas as movimentações no Estado, ingerindo em quem seria condenado e quem seria protegido no âmbito do Judiciário, Ferraço assume agora o papel de grande liderança de um novo sistema político. Se ele é o líder ou o interlocutor de um novo grupo.



Antes de Hartung, o controle do Estado estava nas mãos da Assembleia. Com a ascensão de Hartung, esse controle passou para as mãos do Executivo. Essa manobra de Ferraço, não só o fortaleceu no jogo político, como tenta recuperar para as mãos do presidente da Assembleia esse controle. Olhando para o passado, seus colegas deveriam saber que isso já não acabou bem uma vez.



Fragmentos:



1 – Depois do parecer do Ministério Público livrando o Ferração da Derrama, o procurador-geral de Justiça, Eder Pontes, vem sendo chamado entre alguns colegas promotores de “New Zardini”, uma referência ao antecessor Fernando Zardini.



2 – O ex-prefeito de Vargem Alta, no sul do Estado, Elieser Rabello (PMDB), atual presidente da Associação dos Municípios do Estado (Amunes) é o novo diretor de Transporte do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER/ES).



3 – A nomeação do peemedebista, que esta semana saiu em defesa dos ex-prefeitos presos na Operação Derrama, foi publicado no Diário Oficial desta sexta-feira (25).

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 03 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/