Na semana passada, o Sindicato dos Rodoviários adotou uma medida populista em seu movimento de negociação de data base. Os coletivos rodaram sem cobrador, e o passageiro não pagou a tarifa. Em um primeiro momento, essa estratégia parece interessante, já que não deixa a população na mão e aparentemente, prejudica o patronato. Mas olhando com mais atenção para essa movimentação, a gente percebe que a verdade não é essa.
Em primeiro lugar, o funcionamento com a porta da frente fechada prejudica quem tem o direito de transitar na frente, como idosos e gestantes. Sem o cobrador, também não é possível operar a rampa de acesso na porta do meio para os cadeirantes. Então, essa estratégia prejudicou uma parcela considerável dos usuários.
Além disso, resta a dúvida sobre se essa estratégia realmente prejudica o patrão. Na verdade, para o empresário, não há impacto, já que ele recebe por quilômetro rodado. Quem pagaria a conta seria o governo que, por sua vez, tira o recurso dos impostos e a conta cai nas costas da sociedade.
Passado esse primeiro movimento, os Rodoviários anunciam uma greve para esta quarta-feira (18), que também tem previsão de chuva forte. A greve dos Rodoviários já se tornou uma tradição de fim de ano, mas desta vez terá um elemento a mais.
A Justiça determinou o funcionamento de 70% da frota para diminuir os impactos com a população. Nada que não possa ser driblado pela categoria. Já se fala em distribuir esse quantitativo em horários aleatórios, com operação marcha lenta.
A coluna prefere ir no cerne da questão. A greve é o último recurso do trabalhador. Durante todo o ano, o Sindicato tem de buscar formas de discutir um salário compatível com o lucro das empresas de transporte, que diga-se de passagem é bem alto, e as condições de trabalho. Não dá para deixar a conversa para o último mês do ano e com uma negociação fechada em sindicato-patrão.
O ideal seria a criação de uma comissão de negociação, com integrantes de todas as empresas, que trabalhassem essa discussão o ano todo. Além dos trabalhadores, seria preciso a presença de membros do Conselho Tarifário, onde o sindicato tem assento, e participação do Dieese, com assistência técnica para a negociação.
Isso manteria o diálogo aberto e a transparência do serviço prestado. Uma medida que atenderia não só ao interesse da categoria, como também prestaria um importante serviço de controle do setor pela sociedade. Enquanto a discussão for entre patrão-governo-sindicato, essas manobras serão incontroláveis.
Não adianta a Justiça chegar aos 45 do segundo tempo, como se faz nas eleições sindicais e baixar uma norma. Já que vai intervir, faça uma intervenção qualificada, cobrando do sindicato eficiência em sua atividade.
Acorda Justiça!