Os meios políticos consideram muito difícil que o governador eleito Paulo Hartung (PMDB) fique de braços cruzados em relação à manobra na Assembleia para criar a brecha para reeleição de Theodorico Ferraço (DEM) à presidência da Casa. Se tem uma coisa com a qual Hartung não contava era com o movimento para reeleger Ferraço.
Os movimentos do governador seriam justamente para regionalizar o poder político de Ferraço, garantindo sua eleição na prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, onde não poderia oferecer qualquer perigo à governabilidade de Hartung. Ferraço na presidência da Assembleia oferece um comportamento do Legislativo a que Paulo Hartung não experimentou, de lidar com uma liderança política que trouxe ao legislativo um fortalecimento político que não cabe mais sob a bota do Executivo.
A esse movimento, somam-se recados vindos também do Judiciário, de que os tempos são outros. Sem em 2002, Paulo Hartung conseguiu criar a ideia de que o crime organizado emanava do Legislativo, hoje os deputados estaduais não vão aceitar esse tipo de desgaste. E cuidam de ter à sua frente um nome que tenha condições de sentar à mesa para negociar com o governador em pé de igualdade, mantendo a separação dos poderes.
É claro que neste sentido Ferraço, que garante não ter liderado o movimento da PEC da reeleição – e parece não ter mesmo – acaba ganhando um trunfo e tanto no jogo político com Hartung. O deputado tem questões a serem discutidas com o governador eleito, como o projeto do filho do presidente da Assembleia, o senador Ricardo Ferraço (PMDB), em governar o Estado.
Além de uma força política muito grande no sul do Estado – e Ferraço mostrou isso na eleição deste ano –, o presidente da Assembleia tem o apoio do plenário da Assembleia atual e do futuro, além dos servidores da Casa. É visto como um nome que fortaleceu o Legislativo, que tem condições de representar o conjunto dos deputados e, principalmente, de proteger os parlamentares da política maniqueísta de Paulo Hartung.
Fragmentos:
1 – Na eleição estadual elegemos 30 deputados estaduais, 10 federais, três senadores. Desse montante, 15 nomes devem estar em disputa na eleição de 2016. Outros que não se elegeram viram na disputa para aumentar seus capitais políticos.
2 – Quem pode se dar bem nesta história é Cesar Colnago. Se em 2018 Paulo Hartung for candidato ao Senado, como espera-se, o tucano ficará oito meses no governo e poderá disputar a reeleição como governador. No Rio, nessas eleições, a estratégia funcionou bem para Luiz Fernando Pezão.
3 – A quem interessa dificultar a participação popular nas decisões do Congresso Nacional? A pauta eleitoral deve influir na discussão institucional por mais um bom tempo.