Se é verdade que o governador Paulo Hartung (PMDB) tirou alguns dias de licença médica e viajou para Paris, temos uma situação delicada para analisar. Se mesmo sem essa informação, a classe política já não estava muito propensa a aceitar a movimentação do governador, sem considerar seu viés político, agora então, ficou muito mais grosseiro.
Hartung disse uma coisa e fez outra. Para a sociedade, a informação era de que ele se afastaria para tratamento médico e não para uma viagem com a primeira-dama à Europa. Isso aconteceu na véspera de prestar contas na Assembleia, deixando a bomba na mão de seu vice César Colnago (PSDB). Pior, não tinha nada marcado. Deu posse ao vice e depois mandou o ofício comunicando a ida do vice ao Legislativo nessa quarta-feira (17).
Outra situação complicada é que isso acontece também na véspera da matéria publicada na Folha de S. Paulo, sobre a entrega nos próximos dias, do pedido de abertura de inquérito sobre a delação de Benedicto Júnior, BJ, o que deve reaquecer as denúncias e aumentar o desgaste da imagem, logo agora que ele estava tentando se recuperar politicamente.
Uma terceira situação complicada é a nacional, que atinge o seu atual PMDB e o pretenso futuro partido, PSDB. Não é de hoje que Temer ouve hartung, bem antes daquele misterioso almoço na Residência Oficial da Praia da Costa, antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, ele já contava com o governador para articular os espaços do partido no Estado.
Com Aécio Neves, a situação é diferente. Eles eram aliados até a disputa eleitoral de 2014. Em 2007, quando era governador de Minas, Aécio condecorou Hartung com a medalha Santos Dumont, uma das maiores honrárias daquele estado.
Na eleição passada, porém, Aécio não gostou muito da parceria com o governador capixaba no Estado. Ele esperava um maior empenho de Hartung, tanto que o governador estaria tentando se aproximar de Geraldo Alckmin para tentar seu retorno ao PSDB.
Agora os dois, Temer e Aécio estão em uma situação delicadíssima, por isso, a viagem de Hartung ganha contornos ainda mais políticos. Ficou parecendo que, já prevendo que as coisas iriam se complicar, sobretudo, em relação à prestação de contas, ele preferiu ficar bem longe.
O problema é que, repetindo, se for verdade, a viagem de Hartung a Paris vai trazer ainda mais desgastes quando ele voltar. É sempre bom lembrar que tem sempre um capixaba em algum ponto do planeta presenciando os eventos. Sua viagem não foi diferente, não ficaria em segredo por muito tempo.
Fragmentos:
1 – Ausência sentida na prestação de contas do governador em exercício César Colnago foi do secretário de Agricultura, Octaciano Neto. Enquanto o clima esquentava no plenário, o titular da pasta almoçava tranquilamente no Hortomercado.
2 – Voltou com força a história do encontro entre o governador Paulo Hartung (PMDB) com o então vice-presidente Michel Temer, em dezembro de 2015, antes de o processo de impeachment ser deflagrado.
3 – De que tanto ria o deputado Carlos Manato (SD) ao lado do presidente da Mesa Diretora da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), na hora que o circo pegou fogo em Brasília?