Nesta quinta-feira (13), o funcionalismo estadual, liderado pelo Fórum das Entidades dos servidores públicos do Espírito Santo (Fespes) – que congrega 19 sindicatos e associações – fez uma grande paralisação geral. Segundo o Fespes, mais de 40 mil servidores da Grande Vitória e do interior aderiram ao movimento, que protesta contra a política econômica do governo Paulo Hartung (PMDB).
Não nos cabe aqui fazer o papel de auditores e questionar os números dos organizadores. Não importa se havia 10, 20 ou mesmo 30 mil servidores a menos que o divulgado. O que importa é a paralisação geral foi bastante significativa (as imagens publicadas nas redes sociais comprovam). Recomendaria o bom senso, em qualquer redação, que a paralisação deveria ser tratada como um fato noticioso.
Se uma paralisação geral que envolve 19 sindicatos e associações e afeta o funcionamento de toda a rede de serviços públicos do Estado não é um fato jornalístico, sinceramente, não sabemos mais o que é notícia.
Um servidor, perplexo com o silêncio da imprensa, postou a pergunta nas redes sociais: “Algum resultado dessa paralisação? não vi nenhuma notícia na mídia hoje, nem nos jornais da tv nem internet”.
Um dos sindicatos tentou esclarecer ao servidor: “Todas as empresas de comunicação do estado receberam nossos releases, mas infelizmente poucas deram notícia. É bom ressaltar que até o momento o governo já destinou mais de 19 milhões às empresas de comunicação e eventos. Nota-se o “estanho” silêncio de praticamente toda a mídia capixaba quanto a nossa paralisação. Por isso a importância de compartilharmos as postagens dos sindicatos. Contamos com a adesão de vocês”.
É realmente incrível. Compartilhamos do mesmo espanto do servidor. Não imaginávamos que o governador Paulo Hartung (PMDB), no auge da era da informação, teria capacidade de controlar os principais grupos de comunicação do Estado com tanta facilidade.
É inacreditável. Neste terceiro mandato, mesmo com a popularidade em baixa e a imagem arranhada em função das mazelas do então candidato que vieram à tona durante a disputa eleitoral, Hartung reedita na integra o arranjo institucional que marcou seus dois primeiros governos (2003 – 2010): controle absoluto do Legislativo, Judiciário, Ministério Público e imprensa.
Esse é o perfil do homem que governa o Espírito Santo. Um déspota avesso às práticas democráticas, que só expôs a população à paralisação porque sua soberba o impediu de buscar o diálogo com os servidores.
Mas, pior que as práticas autoritárias do governador é a subserviência daqueles que se rendem aos seus caprichos. Ou alguém tem alguma dúvida de que houve um acordo para boicotar a cobertura do protesto? A manifestação desta quinta (13), por sinal muita primorosa na sua organização, tinha um alvo certo: o governador Paulo Hartung.
Como o governador se sentiria ao ver fotos estampadas nos jornais e na internet, dos principais veículos de comunicação do Estado, de servidores vestidos com uma camiseta amarela adornada por um criativo cacto com a frase: “Esse abraço eu não quero” — em menção à campanha eleitoral do então candidato ao governo, que criou um personagem com apelo popular (“abraça o Paulo”) para convencer o eleitor de que aquele “antigo Paulo” elitista tinha passado para o lado do povão.
Mas, voltando à polêmica sobre a desinformação, é preciso deixar claro que não nos cabe aqui meter o bedelho para dizer como um fato deve ser noticiado. Isso é prerrogativa de cada veículo, que é soberano para definir sua linha editorial. Estamos falando de omissão de fatos. Os veículos de comunicação deveriam minimamente respeitar seus leitores e informar sobre o que houve hoje no Estado. Fosse a cobertura “chapa-branca” ou meramente factual. Não importa. Como já dissemos, é preciso respeitar a linha editorial de cada um. Agora, o que não se pode admitir é que um fato seja solenemente ignorado, que a informação seja omitida do leitor.
Pode ser que nas edições impressas desta sexta-feira (14) os jornais até publiquem algumas linhas sobre a paralisação geral, mas será tarde demais. Todos nós sabemos que a difusão da informação se dá hoje em tempo real. Ninguém espera 24 horas para informar ao leitor sobre um acontecimento que afetou diretamente a vida de milhares de pessoas nesta quinta-feira.
É lamentável admitir, mas as principais empresas de comunicação do Estado se curvaram à lei da mordaça imposta pelo governador, e simplesmente escolheram se calar diante dos fatos.