Quanto custa uma mudança de partido? Qual o preço de um deputado federal?
A pergunta é plenamente justificável nesse período que se encerra a 7 de abril, quando termina a chamada janela partidária, principal canal de abertura para ter acesso aos atraentes recursos do Fundo Partidário, estabelecido em R$ 1,7 bilhão para este ano.
Engordado por meio de recursos financeiros retirados de verbas inicialmente direcionadas às emendas parlamentares, ou seja, investimentos em obras públicas, o Fundo gerou uma movimentação financeira que extrapola, na maioria dos casos, os objetivos que motivaram a criação dos partidos políticos.
Esses agrupamentos de pessoas deveriam ter sua motivação na defesa de ideais próprios, dentro de uma visão de mundo e sua relação com a sociedade. Diferentemente desse conceito, os 35 partidos brasileiros buscam outra coisa bem longe das ideologias.
O Fundo Partidário deixa essa realidade bem à mostra. O troca-troca de siglas permitido até o dia 7 de abril, com raras exceções, tem sua motivação maior em abocanhar gordas fatias do Fundo, que somadas ao tempo de TV, são essenciais para uma campanha bem sucedida.
Não são poucas as vezes que tudo sai diferente do que foi planejado, de modo que tornam sem sentido os esforços desenvolvidos em análises, debates e pesquisas, deitando por terra a finalidade inicial geradora de todo esse esforço.
Com os partidos políticos no Brasil, então, o cenário fica denso e nem mesmo a chamada reforma partidária, aprovada no finalzinho do prazo estipulado para poder valer neste ano, conseguiu deixar as coisas mais claras.
Defendida a unhas e dentes pelos partidos sem exceção, o arremedo de reforma em vigor para as eleições deste ano criou esse monstrengo chamado Fundo Partidário. Para ter acesso a ele, o cenário político se transformou em praça de leilão, com pregoeiros em busca do lance maior.
O desenrolar dessas ações já provoca brigas internas nos partidos, para estabelecer critérios e regras para a distribuição do dinheiro, considerando que 95% do gordo Fundo serão distribuídos de acordo com votação obtida para a Câmara dos Deputados.
A realidade é que a movimentação financeira substitui critérios político- ideológicos e embora não seja aconselhável generalizar a situação, por conta de lideranças que prezam conceitos éticos, o quadro de leilão, onde ocorrem muitas traições, é lastimável e contribui para ampliar a mancha sobre a classe política.