Surpresa nenhuma na lista dos doadores de campanha da disputa deste ano ao governo. Os empresários beneficiados pelo modelo de desenvolvimento implantado no Espírito Santo, representado tanto pelo governador eleito Paulo Hartung (PMDB) como pelo atual, Renato Casagrande, fizeram apostas altas nos dois “cavalos” que polarizaram a briga pelo Palácio Anchieta. O mapa da distribuição do dinheiro confirma previsões nada animadoras para a população e movimentos sociais nos próximos quatro anos – ou mais. As poluidoras, como sempre, foram mais do que generosas, bem como as empreiteiras e empresas de logística e comércio exterior. O investimento já virou dívida e retornará na forma de manutenção dos privilégios ao setor privado, seja por renúncia fiscal, isenções ou licenciamento de empreendimentos em tempo recorde e sem qualquer empecilho, mesmo que representem graves impactos ambientais e sociais. Os representantes da elite capixaba continuarão rindo à toa, pois delimitaram seu território e vão ditar as regras dos rumos do Estado ainda por muito tempo. Já a maioria da população, que se lasque! Muda o comandante, mas o sistema…jamais!
Diferença gritante
No caso das poluidoras, chama atenção a preferência das poluidoras Jurong e Vale pelo governador Renato Casagrande. A primeira destinou nada menos do que R$ 1,45 milhão ao socialista e a mineradora R$ 1,5 milhão. Já Hartung levou das mesmas empresas, respectivamente, R$ 300 mil e R$ 200 mil.
Apostas
Mais interessante ainda, o fato de o governador eleito, sempre que pode, encher a boca para falar que foi ele quem trouxe a Jurong para o Estado. Só que a empresa não retribuiu o “gesto” à altura. Essa Jurong é uma ingrata ou deve muito mais a Casagrande?
Figurinhas repetidas
As outras poluidoras habituais, ArcelorMittal e Aracruz Celulose (Fibria), também compareceram nas duas listas. E, obviamente, não deixaram de molhar a mão de candidatos ao Senado e das proporcionais.
Contradição
Como nas últimas eleições em que participou, a deputada federal Iriny Lopes (PT), derrotada no pleito, levou mais uma vez dinheiro da Aracruz Celulose – R$ 50 mil – e da Vale Rio Doce Energia – R$ 100 mil. Doações dessas empresas a Iriny sempre são questionáveis. A petista por muitos anos foi a principais voz das comunidades impactadas por grandes projetos poluidores no Estado.
Investimento
Hartung desembolsou R$ 1,9 milhão na contratação da empresa do marqueteiro Jorge Oliveira na campanha deste ano. No processo que move contra Hartung na Justiça do Trabalho, Bete Rodrigues, a antiga contratada, pede ressarcimento de R$ 1,3 milhão. Jorge recebeu pelo serviço prestado, Bete até hoje não.
Bombou
No final das contas, o choro do ex-prefeito João Coser (PT) em relação à cara campanha da senadora eleita Rose de Freitas (PMDB) não era em vão. A deputada federal arrecadou quase R$ 5 milhões, com a ajuda pra lá de especial do seu primeiro suplente, o empresário Luiz Pastore. Juntando Coser e Neucimar Fraga (PV), que ficaram parelho, com cerca de R$ 2 milhões cada, não dá uma Rose.
Bombou II
Na disputa à Câmara dos Deputados, quem disparou no assunto dinheiro foi o eterno candidato de Hartung, Lelo Coimbra (PMDB), com R$ 2,2 milhões, acima das candidaturas derrotadas ao Senado. A maioria de empresas mineradoras e da Unimed – investiu R$ 600 mil em Lelo, que é médico. Em comparação às doações passadas de Lelo, ele bateu recorde. E como!
Nem assim
Não foi por falta de dinheiro que o deputado estadual Elcio Alvares (DEM) perdeu sua reeleição. Captou dinheiro à beça para a campanha: R$ 680 mil. Mas ficou a ver navios.
Caixa vazio
Já Amaro Neto (PPS), o campeão de votos à Assembleia Legislativa, gastou míseros R$ 45,8 mil – a maior parte doada pela campanha de Casagrande.
Quem te viu…
Eleita pela primeira vez em 2002, com a bandeira de sindicalista combativa, Janete de Sá (PMN) levou R$ 70 mil da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), empresa controlada pela Vale, da qual é funcionária de carreira. As coisas mudam.
Primeira parte
Volto a este assunto nas próximas colunas. As doações precisam ser esmiuçadas.
140 toques
“Inacreditável a declaração racista do professor da Ufes (…) Processo nele”. (Iriny Lopes – no Twitter).
PENSAMENTO:
“O planejamento governamental não é feito pelo governo e sim pelas empreiteiras”. Adib Jatene
