Pouco depois das eleições ao governo do Estado, o governador Renato Casagrande afirmou que sua postura no novo governo seria crítica, apontaria o que considerasse errado. Mas desde então, o socialista vem mantendo um silêncio ensurdecedor. O luto pela derrota tem se prolongado por mais tempo do que deveria.
Neste ínterim, o governador eleito tem se aproveitado do silêncio do governador para legitimar seu discurso de combate à “velha política”, ladainha que deve repetir ao longo de seu governo, como fez como “crime organizado” nos oito anos de sua gestão anterior.
Hartung voltou a terceirizar a porrada. Seus interlocutores têm feito o trabalho de desconstruir o governo de Casagrande, com críticas à saúde financeira do Estado e a obras do governo, sem que haja uma reação do Palácio Anchieta. Fica evidente, neste sentido, o erro que Casagrande cometeu em seu governo e durante a campanha: a falta de interlocutores para fazer sua defesa.
No período pré-eleitoral, observou-se a disparidade do embate. Hartung fazia uma série de críticas por meio de interlocutores, primeiro com o estudo sobre as finanças do Estado, que tinha à frente o hoje coordenador da transição, Haroldo Correa Rocha; depois foi o presidente do PMDB do Espírito Santo, deputado federal Lelo Coimbra, que passou a ser o porta-voz do adversário de Casagrande.
O governador respondia às críticas diretamente, não tinha entre seus aliados um representante para servir fazer contraponto ao grupo de Hartung. Agora, nem isso, os emissários de Hartung vêm traçando um cenário de problemas no governo do Estado e as críticas têm feito eco, porque não há quem possa defender o governo Casagrande no mesmo âmbito.
Isso cria uma insegurança sobre a situação de quem não se alinhar ao governo de Hartung. Casagrande teve uma disputa dura com Hartung, conseguiu uma votação expressiva que lhe daria condições de liderar um grupo de oposição, evitando assim que o Estado ficasse sob o comando irrestrito do governador eleito.
Mas se o luto da derrota de Casagrande se prolongar demais, ele pode perder as condições de reunir esse grupo e estabelecer o debate com o governo eleito no campo político. Isso deixaria órfãs as lideranças que apoiaram o governo e terão as portas do novo governo fechadas.
Casagrande precisar voltar a emergir, reconstruir seu partido e projetar movimentações futuras ou será atropelado pela conjuntura política e aí, sim, será tarde demais.
Fragmentos:
1 – O momento na Assembleia pode ser delicado. Os deputados colocaram na mão de Theodorico Ferraço (DEM) a faca e o queijo, mas não se sabe o que se passa na cabeça do presidente da Assembleia.
2 – A Executiva do PT capixaba se reúne na noite desta segunda-feira (3). Em pauta estariam os prós e contras de aderir ao governo Paulo Hartung (PMDB). Os meios políticos têm uma visão muito clara que a cúpula do partido é totalmente favorável à ocupação dos espaços que forem oferecidos.
3 – Essa política de ocupação de espaço, porém, é muito relativa, não significa participação decisiva. Até quando o partido que tem a Presidência da República vai aceitar servir de reboque a outros projetos de poder cada vez mais distantes de sua base?