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Faz um ano desde o episódio da greve da PM, em que as mazelas da corporação foram expostas à sociedade: baixos salários, recursos escassos até para manter combustível das viaturas e munição; alojamentos precários; falta de armamento em boas condições para operações de risco; de assistência médica e de treinamentos adequados. Estopim que resultou numa paralisação de 21 dias, incluindo o período de carnaval, em que a população ficou entregue a própria sorte. 
 
Novos episódios, este ano, voltam a envolver a tropa também em período de folia. Dessa vez, não foi a paralisação dos PMs que entrou no centro dos debates, mas, digamos, o excesso de ação em, pelo menos, três casos específicos envolvendo repressão a manifestações populares, os blocos carnavalescos. Isso tanto no período que antecedeu o carnaval e também durante o feriado.
 
Sob ordens e comando da Secretaria de Estado de Segurança Publica, houve excesso na Praia das Castanheiras (Guarapari) em plena terça-feira, dia oficial do Carnaval (13), com diversos feridos por balas de borracha. Antes disso, na quinta-feira, dia 8, os PMs impediram a apresentação do bloco “Nós, Eva e Adão” no Centro de Vitória, a pedido da própria Prefeitura da Capital, com ares de censura. No dia 14 de janeiro passado, uma verdadeira luta campal foi registrada na orla Coqueiral de Itaparica (Vila Velha) para dispersar foliões do Bloco Orla Folia 2018.
 
A estratégia de segurança no Carnaval parecia ter dois objetivos. O primeiro tentar impedir que as pessoas estivessem nas ruas por toda a madrugada, garantindo, assim, índices menores de criminalidade para apresentar à sociedade. O outro atender a classes mais conservadoras numa repressão seletiva e autoritária: controlar aglomerações populares, carnaval e blocos de rua, sem diálogo com as comunidades e os foliões. Esquecendo-se de que a festa é uma oportunidade para desenvolver o turismo.
 
Em Guarapari, moradores relataram uma espécie de toque de recolher, instituído pelo próprio poder público com o uso do spray de pimenta para dispersar pessoas das ruas após o fim da programação oficial, além de uma série de medidas repressoras, como apreensão de caixas de som. Relatos parecidos foram registrados em Piúma, também no sul do Estado. Não custa lembrar que, em Guarapari e Piúma, diversas famílias contam com a movimentação do carnaval para reforçar o orçamento para todo o restante do ano. 
 
Passada o carnaval, o governo realiza em tempo recorde dois eventos. No primeiro, a Sesp apresenta, em coletiva de imprensa, dados de redução de homicídios e o “sucesso do esquema de segurança executado durante o feriado”. Logo em seguida, o governador Paulo Hartung se reúne com políticos e empresários em Meaípe, Guarapari, para “comemorar o perfeito esquema de segurança montado na cidade para a folia”.
 
Uma clara tentativa de tentar afastar mais arranhões à imagem e, ao mesmo tempo, valorizar uma das áreas que se constitui o prior gargalo do governo do Estado, a segurança pública. 
 
Agora vem um novo capítulo, com o pedido de intervenção federal no Rio de Janeiro. O secretário André Garcia, logo após a medida, disparou em entrevista coletiva: “Se bandidos vierem pra cá, vão se dar mal”, prometendo reforçar o controle na divisa do Estado com o Rio.
 
Isso tudo indica que a crise na segurança pública capixaba está longe de ser contornada. Desde 2017, quando atingiu o ápice com a greve da PM, vem se arrastando de carnaval em carnaval. 

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