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Marcha à ré

No início de agosto, o prefeito de Cariacica Geraldo Luzia, o Juninho (PPS), encaminhou à Câmara um projeto de autoria do Executivo municipal propondo a criação do Conselho de Enfrentamento à Discriminação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT e Promoção de Direitos. 
 
As entidades que militam no segmento LGBT festejaram a medida corajosa e avançada do prefeito. Juninho parecia disposto a encarar toda a pressão que a polêmica medida causaria nos setores mais conservadores da sociedade cariaciquense, entre eles as lideranças religiosas e, sobretudo, a bancada evangélica na Câmara, que não é pequena. 
 
Dito e feito. A primeira pressão veio dos vereadores, que torceram o nariz para a medida. A sessão que tiraria do papel a proposta de Juninho foi conturbada, mas a ala conservadora da Câmara acabou saindo derrotada: 10 a 6. 
 
O prefeito, como não podia ser diferente, sancionou a lei de sua autoria. No último dia 11, as entidades LGBT e de defesa de direitos humanos, reconhecendo a importância e grandeza da medida aprovada, mais uma vez, decidiram manifestar novo apoio ao ato de coragem de Juninho. Na ocasião, os militantes entregaram uma carta simbólica em apoio à iniciativa do prefeito.
 
Uma semana depois de ser apontado como um gestor à frente do seu tempo – pelo menos para os ativistas dos movimentos LGTB e de defesa de direitos -, o prefeito cedeu à pressão da bancada evangélica e voltou atrás. 
 
A emenda para tentar sair do imbróglio, obviamente, saiu pior que o soneto. Juninho aceitou mudar o nome do conselho, como exigiam os vereadores da bancada evangélica e mesmos alguns outros que votaram com o prefeito a contragosto, já temendo a irá dos pastores que praguejavam a aprovação do projeto e seus respectivos responsáveis. 
 
Diante da pressão, a solução encontrada por Juninho foi mudar o nome do conselho, que passa a se chamar Conselho Municipal de Enfrentamento à Discriminação e Promoção de Direitos. 
 
A mudança acatada por Juninho, no entanto, vai muito além da nomenclatura do conselho. Ao ceder à pressão, o prefeito tira a identidade da proposta original, que pretendia empoderar o novo conselho, que passaria a propor, deliberar, contribuir na normatização, acompanhar e fiscalizar políticas relativas aos direitos da população LGBT do município.
 
Após vencer o embate com o prefeito, a bancada evangélica já trabalha para descaracterizar por completo o conselho, que mal nasceu já foi abortado.
 
O prefeito Juninho, que parecia estar à frente de seu tempo, mostrou que a laicidade funciona na teoria, mas na prática religião e política ainda se misturam. 
 
Em reportagem publicada nesta terça-feira (17) em Século Diário, o coordenador do Fórum Estadual LGBT, Christovam Mendonça, faz uma denúncia grave que confirma a influência das lideranças religiosas na administração municipal. 
 
Christovam salienta que a prefeitura vem atuando para a igreja. Segundo ele, há 67 pastores com cargos na administração municipal. “O prefeito não administra para homens, mulheres, negros, homossexuais ou heterossexuais. Ele administra para pastores”, criticou o militante. 
 
Depois dessa, alguém duvida? 

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