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Mercador de ilusões

Já se vão quase seis meses de governo e ainda tem muita gente esperando a tal chacoalhada que o então governador eleito Paulo Hartung prometera dar no Estado. Neste início de governo fica evidente que a preocupação de Hartung é fechar as torneiras para fazer caixa. A estratégia para justificar o arrocho continua sendo a mesma: transferir para o antecessor Renato Casagrande a responsabilidade de ter deixado a saúde financeira do Estado na berlinda.
 
O discurso do governo – que já ficou cansativo – insiste na tese do caos como uma forma de convencer os capixabas de que as medidas de austeridade são necessárias para evitar que o Estado mergulhe numa crise irreversível.
 
Apesar do discurso, o governador sabe que não pode simplesmente ficar segurando a chave do cofre e correr o risco de ver a pressão popular crescer nas ruas e inviabilizar seu governo. 
 
Para preservar a imagem do seu governo, Hartung recorreu a uma velha fórmula: vender ilusões. A estratégia do governo é investir pouco em projetos “amostra-grátis” e dar uma resposta à sociedade. O discurso seria mais ou menos o seguinte: “Apesar da terrível crise financeira que o Estado enfrenta, estamos trabalhando com muita criatividade para cumprir as promessas de campanha”. 
 
Essa, por exemplo, foi (e ainda é) a estratégia para “pagar” as promessas de campanha referentes à educação. O então candidato que prometia revolucionar a educação, quis enfiar goela abaixo de professores, pais e alunos um projeto-vitrine: o Escola Viva. A reação da sociedade civil organizada à manobra, porém, fez água no projeto, que segue incubado à espera de uma outra oportunidade para voltar à vitrine.
 
Na área de segurança, que Hartung também prometeu mundos e fundos, a estratégia foi rebatizar o que já vinha funcionando no governo anterior – até secretário (André Garcia) é o mesmo. O Estado Presente, programa do governo Casagrande, foi rebatizado com o nome de Ocupação Social. 
 
Vacinada com a má recepção ao Escola Viva, a equipe de governo adotou uma estratégia mais cuidadosa para “lançar” o Ocupação Social sem margem de erro. A concepção de amostra-grátis continua valendo. 
 
A ideia é matar dois coelhos numa pancada só. O programa será lançado em Vila Velha para tentar recuperar a imagem do prefeito Rodney Miranda (DEM), que ainda aposta as fichas no seu passado de Rambo. Estratégia que deu certo há quatro anos para eleger Rodney o deputado estadual mais votado – mesmo tendo feito uma gestão pífia à frente da Segurança – e, de quebra, o personagem Rambo ainda deu fôlego para o ex-delegado federal conquistar a Prefeitura de Vila Velha.
 
A outra serventia de lançar o Ocupação Social em Vila Velha também tem a finalidade de quitar mais uma dívida de campanha de Hartung. Para quem já se esqueceu, Hartung afirmou que Vila Velha, com sua eleição, passava a ter dois prefeitos. Fazer o programa de segurança dar certo em Vila Velha só vai depender agora de uma boa vitrine. O manequim principal da vitrine Hartung já tem.
 
Direitos Humanos foi outra área negligenciada nos dois mandatos de Hartung (2003 – 2010). O “senhor das masmorras”, porém, parece que encontrou uma boa saída para mostrar que o “novo” Hartung também se preocupa com a defesa de direitos. 
 
O professor Júlio Pompeu, infelizmente, emprestou sua sólida trajetória na área para dar credibilidade ao discurso oportunista do governo. Logo Pompeu que foi um dos críticos mais agudos das violações impostas à população carcerária durante o segundo governo de Hartung.  
 
Mesmo protegido pelo nome Pompeu, a exemplo do Escola Viva, o governo já sofre as primeiras críticas dos movimentos de direitos humanos. Os militantes se queixam que depois de seis meses de governo ainda não se reuniram com representantes do governo. Eles se queixam também que foram alijados da discussão que definiu a criação da Coordenadoria de Direitos Humanos, a qual foi entregue ao professor Júlio Pompeu. 
 
Em todos esses exemplos, a estratégia do governo é passar uma boa demão de “verniz social” para esconder problemas crônicos que sempre foram negligenciados nos dois mandatos de Hartung
 
Hoje com as redes sociais fazendo a diferença – aliás, o governador, dentro da estratégia de comunicar melhor suas ações, entregou na mão de profissionais um novo perfil no Facebook -, Hartung sabe do risco que corre se simplesmente ignorar as demandas sociais. 
 
Na verdade, nada mudou. Os investimentos na área social continuam não sendo prioridade deste governo. A diferença é que agora ele está mais preocupado em dar uma caprichada na vitrine para construir uma grife social para o seu governo. Resta saber quem estará disposto a comprar ilusões. 

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